quinta-feira, janeiro 25, 2007

Violência II ? Ou sobre Abusado
O repórter da Globo, Caco Barcellos, já havia escrito um livro interessante sobre a questão da violência chamado Rota 66 ? a história da polícia que mata, em que falava sobre a rotina de execuções de jovens pobres pela Rota, parcela de repressão dura da PM de São Paulo.
Em 2003 Caco lançou Abusado, contando, a partir de uma biografia do traficante Marcinho VP, um pouco da história da evolução do controle do tráfico de drogas sobre o Rio de Janeiro, especialmente na década de 90, mas com muitos elementos de como o processo de formou, nas décadas de 70 e 80.
Marcinho VP ? no livro tratado como Juliano ? foi o traficante dono do morro Dona Marta durante vários anos. Sujeito com grande capacidade de liderança e, para além disso, com boa articulação para além do seu cotidiano, acabou se tornando uma celebridade, característica que contribuiu imensamente para a feitura do livro ? que segundo Barcelos surgiu muito da insistência do próprio Marcinho ? e, logo após esse lançamento, para sua morte no interior de uma cadeia, em boa parte em razão das revelações que o livro fazia. Marcinho se diferenciava no cenário da criminalidade carioca como sujeito que lia, que pregava que o tráfico deveria constituir um movimento com maior relação social. Tinha simpatia por movimentos de insurgência, como os zapatistas.
O livro não é, como acusam alguns críticos, uma apologia ao crime ou romantização da vida do personagem. Mostra sua complexidade, expressa o fato de que qualquer pessoa é contraditória. Marcinho era um criminoso sim, era violento. Foi responsável por muitas mortes. Mas não deixa de ser um personagem fascinante, que expressa por sua biografia um pouco da história mais necessária de ser pensada da nossa história recente.
Nesse sentido Abusado é uma leitura importante: procura mostrar o histórico e o presente complexo da questão da criminalidade dos grandes centros urbanos, especialmente do Rio. Pela sua leitura não se percebem as soluções claras, mas ao menos serve para isso: ver que nada é fácil. Que há sempre mais que duas explicações para os fenômenos atuais.
Violência
Há no nosso país uma centena de problemas centrais a serem resolvidos. Mas quem torna os assuntos prioridades ? especialmente a imprensa ? parece preocupada centralmente com a violência e o combate à criminalidade.
Não que esse não seja um dos assuntos realmente importantes em qualquer sociedade atual. Mas mesmo dentro do grande tema violência (ou segurança pública) cabem diversas variáveis que mereceriam nossa consideração. Que tipos de crimes são os mais importantes a serem combatidos? Na minha visão de mundo, os esforços centrais da civilização deveriam estar voltados a reduzir os homicídios e outros crimes contra a pessoa, a violência que mais centralmente deveria preocupar a todos aqueles que pensam na dignidade como centro de uma sociedade. Mas os esforços e preocupações dos governos e da chamada opinião pública (a tal classe mérdea) se voltam ao combate aos crimes contra o patrimônio. O novo governo do RS está numa campanha intensa para tentar diminuir os roubos de carros, com um conjunto de ações cujo resultado máximo seria erradicar os roubos de carro. Isso significa que num quadro tão complexo, as ações de um governo estão voltadas para uma pequena minoria que tem carros. É assim que um governo deve operar? Não seria mais importante pensar um programa sério para diminuir os homicídios em Alvorada, por exemplo? Ou diminuir de forma significativa os assaltos a ônibus, esses sim afetando uma parcela expressiva da população?
Mas funciona assim mesmo: quem tem patrimônio costuma ter poder econômico, logo poder de influência sobre as decisões do poder político. E a tal classe média, mesmo não mandando tanto, tem um poder de pressão muito maior que os pobres, esses que se danem.
E assim seguimos vendo apenas bravatas via imprensa como se isso fosse a solução do problema da criminalidade. Ou como se apertar ainda mais a repressão aos pobres fosse resolver o problema. Não parecem preocupados com o fato de que quanto mais uma policia mata, mais policiais morrem, também. Essa resposta é absolutamente normal. O tanto de pessoas mortas pela polícia na última semana no RS não deveriam ser comemoradas de modo algum, pois essas mortes só servirão para ?puxar? outras. Fora o fato de que numa sociedade civilizada deveríamos lamentar mortes, sempre. Me parece, ao menos...
segunda-feira, janeiro 22, 2007

Na sexta-feira completaram 25 anos da morte de Elis Regina, que talvez seja a maior cantora brasileira de todos os tempos.
Creio que a efemeride pode ter servido para que Porto Alegre comece a se reconciliar com uma de suas maiores personalidades de todos os tempos, certamente a maior cantora daqui surgida. O fato de Elis não ter trabalhado bem a sua relação com a cidade de origem me parece muito pouco para justificar que uma cidade não se orgulhe da filha que deu ao Brasil.
Como uma das maiores artistas de todos os tempos é que Elis deve ser pensada por Porto Alegre, com as devidas homenagens: um museu ou ao menos um espaço permanenente em algum dos tantos que temos. Não viria mal algum logradouro público que homenageasse Elis, quem sabe rebatizando alguma avenida que hoje homenageia algum ditador dos tantos que merecem nossa considerações. Se Porto Alegre fosse justa, daria à atual Avenida Castello Branco, a primeira via para quem chega de automóvel em Porto Alegre, o nome de Avenida Elis Regina. Me parece algo mais razoável do que homenagear um dos presidentes da ditadura militar na entrada da cidade.
O IAPI começa...
Moro no bairro onde Elis Regina cresceu. E parece que por um movimento de algumas pessoas que se criaram com ela, começa a surgir essa justiça. Na sexta-feira, uma festa mobilizou algumas centenas de pessoas para homenagear a "pimentinha" no pequeno Largo onde ela se criou e que recebeu seu nome, numa homenagem ainda muito pequena para o tamanho da cantora.
A pequena festa - que só fiquei sabendo no outro dia - pode ter sido um ponto de partida para isso que falei acima - a cidade repensar a relação com um de seus maiores mitos.
sexta-feira, janeiro 19, 2007

No final de semana assisti Volver de Almodóvar. Como é recorrente nos filmes do diretor espanhol, trata-se de um excelente filme: bem tramado, com temática instigante, quase perturbadora (trata da questão do abuso sexual intra-familiar, dentre outras coisas), com excelentes atrizes, cenários, direção de arte, etc, etc.
Como sempre, candidatíssimo a grande prêmios, dentre eles o Oscar de filme estrangeiro, talvez mais uma vez roteiro original.
terça-feira, janeiro 02, 2007

Finalmente ontem fui assistir O Ano em que meus pais saíram de férias, filme nacional dirigido por Cao Hamburguer. O filme conta a história de um menino de 12 anos que tem sua vida transformada pela necessidade dos pais fugirem da repressão. Eles o deixam no apartamento do avô, no bairro Bom Retiro, em São Paulo. Só que no mesmo dia, o avô morre e o menino acaba abrigado pela vizinhança. A partir dai, o filme se desenvolve, com a mistura entre fatos reais e a história do garoto, entre essa e histórias judaicas, elemento muito presente no filme.
Confesso que esperava mais. Achei o filme geralmente chato, mesmo que bem feitinho, bem intencionado, com bons atores. Mas não pode ser comparado, como é, ao argentino Kamchatka, que também trata da visão infantil sobre as ditaduras e a perda dos pais em razão dessas. O similar brasileiro é claramente inferior. Ainda assim, é um filme interessante,se considerarmos a média da qualidade das produções em cartaz.
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