terça-feira, novembro 21, 2006
Anorexia e obesidade podem ter a mesma origem?
Há algum tempo, com as transformações de alguns posicionamentos meus, evito apenas repetir chavões. Mas como continuo marxista, não posso deixar de olhar as coisas sob um olhar tal. E identificar complexidades onde parece que não há ou onde há mas elas estão escondidas.
Assim, vi alguém comentar a respeito das duas mortes de meninas-lindas-e-magras-que-queriam-fazer-sucesso-sendo-sempre-mais-magras que haviam dois fenômenos completamente diversos na juventude que mereciam igual atenção: a anorexia/bulimia e a obesidade, que talvez não estivessem tão distantes. E é real, hein!
Por que?
Ora, por causa do "tal do capitalismo".
Sim, por isso que eu fiz aquela introdução. Sempre que se joga a responsabilidade dos fenômenos pro capitalismo, parece papo de trosko chato, mas não... isso é marxismo, fazer o que...
Vivemos em uma sociedade movida pelo dinheiro, certo? E uma sociedade que valoriza muito o consumo, certo? E que valoriza MUITO o corpo, a forma física, a beleza-padrão. Através do corpo e da beleza se pode chegar ao dinheiro. De algum modo através do dinheiro se pode chegar à forma física e à beleza, porque não... Boas roupas, tratamentos, cabeleireiro bom, academia, tudo isso ajuda. Assim, somos instigados permanentemente a essa loucura de ter grana pra ser belo, ser belo pra ter grana. Ter grana pra comer gente, comer gente pra ter grana. Um vai-e-volta louco, em torno disso.
Por isso que centenas ou milhares de meninas - mais as meninas, parece - NÃO COMEM no mundo de hoje: para serem "belas", para serem desejadas por todos. E por isso que meninas e meninos vivem horas por dias em academias, desde novinhos: para terem um corpo sarado, para serem tesudos. Para muitos vezes ficarem completamente sem graças, de tão inchados que ficam. Por isso muitos tomam remédios para emagrecer ou para inchar músculos. Uma tristeza. O mundo não fica mais bonito e fica muito mais sem-graça em razão desse comportamento. Contribui imensamente para as gerações atuais serem burras e paranóicas em busca apenas da beleza e do corpo, como se isso resolvesse tudo.
É isso que há anos mata, mas agora parece já criar um choque. São muitas histórias que começam a aparecer de meninas que não conseguem ingerir um alimento sem vomitar, tudo em nome de serem supostamente belas. E quem disse que só é bela quem tem 40 kg?
E nesse sentido, a obesidade não deixa de ser outro lado da mesma moeda: a pressão por consumir as coisas da moda faz uma outra parcela da juventude em todo o mundo comer merda disfarçada de hamburguer, até explodir. Nos EUA, há um recorde de obesidade mórbida. Pessoas que comem por pressão, por tensão, por vários motivos, tudo por força do "sistema", que as força a comportamentos compulsivos, seja de comer, seja de malhar, seja de vomitar para não engordar.
Que mundo triste esse. Pobre de nós, que somos jovens!
Sim, eu tenho 28. Sou jovem... mesmo que o mesmo sistema de valores diga que não...
Uma volta...
Lamento não estar escrevendo por aqui. Mas a falta de tempo e energia anda grande: época de provas, desmotivação por diversas fontes, etc... Mas lamento mesmo! Pretendo retomar ou nesse ou em outro formato...
terça-feira, novembro 07, 2006
Os exageros de quem decide a pauta
Nossa imprensa e o debate político são geralmente distorcidos em razão de quem "pauta a pauta" são uma pequenina minoria da população, o que se costuma chamar de "formadores de opinião". Grosso modo, as preocupações mais centrais da imprensa passam por assuntos que interessam exclusivamente à classe média: o medo da violência, o preço alto da gasolina, para ficar em alguns exemplos. O jornalista Paulo Santana, um dos mais lidos e ouvidos pelos gaúchos, é um pouco assim. Ao menos cinco colunas por mês dele são dedicadas a tratar do preço da gasolina. Ora bolas, combinem aqui, é um assunto que interessa a 10% da população, diretamente. Claro que o preço dos combustíveis tem efeito cascata em cargas, preço de produtos, preço da passagem, tudo isso. Mas distorções no preço do combustível na bomba do posto é um assunto que, por mais importante seja, interessa a quem tem carro. Minoria, portanto. Os engarrafamentos e falta de vias mais largas são um problema de quem tem carro, também. Mas são tratados como problema universal. Já os velhos amontoados nos coletivos lotados não tem tratamento nunca, de ninguém na "grande imprensa" ou o foco de uma expressiva parte dos mandatários do país.
Na semana passada, mais uma dessas pautas "esquentadas" pela minoria: o caos dos aeroportos. Óbvio que deve ser profundamente desagradável a uma pessoa ter que passar pelos sofrimentos que passaram aqueles que tiveram que viajar na semana passada e muitas vezes viraram a noite esperando pra ter o vôo cancelado. Evidente que isso tem efeito cascata no transporte de cargas, no desenvolvimento do país, no turismo, no caralho-a-quatro. Mas é um assunto para ter tanta manchete de jornal, capa, cinco, seis páginas por dia durante uma semana?
Mais: o ex-senador Paulo Brossard, um porta-voz do que há de mais reacionário no RS, chegou ao desplante ontem de comparar o colapso do transporte aéreo com o quase-apagão do sistema elétrico que vivemos há cinco anos, como se o primeiro fosse um problema verdadeiro e mais grave. Ora bolas, Dr Brossard! Menos... O Sr deve ter gerador na sua fazenda, por isso fala uma merda dessas!
Outra ida à Feira
Domingo fui novamente à Feira do Livro. Dessa vez para a sessão de autógrafos do Charles Kiefer, que não só é um dos escritores que leio desde pequeno, como se tornou uma figura muito querida pra mim, depois de ter feito um ano e meio de sua Oficina Literária. Kiefer que mudou de editora e está tendo boa parte de sua obra relançada, agora, em caprichadas produções da Record. Merecido.
Eu comprei e levei o autógrafo de Logo tu repousarás também, um livro inédito de contos lançado esse ano. Mais um livro pra pilha das férias.
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