terça-feira, maio 23, 2006
Quase tudo
Sim, eu leio Quase Tudo, literalmente. Menos Dan Brown e lívro espírita. Depois de minha vó(que tem exatamente a mesma idade de Danuza) ler a biografia recentemente lançada de Danuza Leão, começou a me contar um a um os fatos, até que achei melhor ler o livro logo. Se trata, aliás, de leitura rapida e interessante.
Danuza tem 72 anos. Viveu três casamentos com jornalistas importante(Samuel Weiner, dono do polêmico Ultima Hora, que mexeu com o modo de fazer jornal no país e notório amigo de Getúlio e Jango Goulart), com o cronista do jornal do primeiro marido, Antônio Maria e com o atual âncora do Bom Dia Brasil, Renato Machado. Especialmente em razão do casamento com o primeiro, viu os fatos históricos acontecendo, à sua frente. Com o golpe, em 64, se viu na necessidade de exilar-se com o ex-marido, para bem cuidar dos filhos. De volta ao país em 69, estava na casa ao lado do cativeiro do embaixador Charles Ullbrick, dos EUA, no famoso sequestro. Era amiga íntima de uma das sequestradoras e com ela conviveu inclusive nos dias dos fatos. E assim ela vai tropeçando nos acontecimentos, muitas vezes sem nem entende-los bem, porque se confessa - e demonstra ser - uma pessoa de mediana intelectualidade, apenas. Irmã de Nara Leão, também desse acasos, viu nascer o movimento da bossa nova. Viu Vinícius, Tom, Chico e outros passarem pela sala da sua casa sem lhes dar a mínima, apenas como "os amiguinhos da Nara".
Além disso, e aí deliberadamente, viveu grande parte da evolução do funcionamento da elite brasileira. Foi colunista social, ainda recentemente, administrou casas noturnas, fez amizades no grand mondé. E tudo isso faz do livro um interessante relato de alguém que viveu. É sempre interessante ler coisas diferentes daquilo que compõe nosso mundo. Esse livro é isso: um relato interessante sobre uma figura interessante.
sexta-feira, maio 19, 2006
Best sellers
É, eu vez que outra leio algum best seller. Frederick Forsyth foi um autor desse tipo Dan Brown, há uns vinte anos atrás. Desses tantos autores que escreveram na lógica da Guerra Fria: sobre espionagem, complôs para matar presidentes, etc.
Em Dia do Chacal, Forsyth conta a história de uma das tentativas que a OES, uma organização de extrema-direita, fez no sentido de matar o presidente da França, Charles De Gaulle, um dos tantos complôs infrutíferos. Beirando o limiar entre ficção e realidade, o livro traz uma narrativa fascinante. Baita leitura!
segunda-feira, maio 15, 2006
Histórias curtas
Ele queria encontrar um adjetivo praquele quarto de motel. Sórdido? seria elogio.
SP
Eu não gosto de São Paulo. Já devo ter dito isso uma dezena de vezes aqui. Mas adoro algumas pessoas que lá moram. Fica minha sincera vontade que essas pessoas estejam bem, todas elas... E pra que a cidade delas volte ao normal... por mais que, pra mim, o normal de São Paulo não seja lá muito atrativo... mas enfim: paz aí, galera... tou aqui torcendo...
O medo... o terror...
Eu fico um tanto quanto apavorado com o que está acontecendo em São Paulo. Porque foge à tradição do Brasil, inclusive... creio que o que mais nos assusta é isso: somos pacíficos, não é da nossa rotina ações de terror, de "vanguarda", como poderiamos dizer que seja o PCC(ou será uma retaguarda?)
Infelizmente, isso é só mais uma demonstração de que vivemos pertíssimo da barbárie. Que nosso futuro é duríssimo. O que está acontecendo agora pelas ruas da Grande São Paulo é aquilo que já ocorre nos morros das grandes cidades. Só que aí a classe média e a imprensa não percebe, não chia, não reclama: enquanto está acontecendo a opressão e morrendo só lá, os pobres, tudo parece que nem existe pra quem tem voz. Quando cada um de nós pode ser a próxima vítima, isso faz o grito.
Solução? Só uma mudança radical do mundo pra melhor. Enquanto houver capitalismo, não vai haver paz, realmente. Só paliativos para MINORARAR a violência. Mas boa parte do capital do mundo hoje se reproduz através da indústria da violência e do medo: tráfico de drogas, armas, gente... venda legal de drogas, armas, grades... eleição de políticos fascistas que prometem combater a violência... isso tudo é um ciclo vicioso que nunca se romperá dentro do sistema capitalista.
Eu me assusto com o fato de que posso ser a próxima vítima. Mas me assusto ainda mais com os remédios: exército na rua, mais polícia na rua, suspensão de direitos individuais... isso pode ser ainda maior mal que o problema original.
Mas quando passamos a viver o terror, o caminho pra soluções fascistas fica cimentado...
quinta-feira, maio 04, 2006
Bah!
Acabo de ler Noites Felinas, de Ciryl Collard. Da década de 90, virou filme também, que ainda não vi. Com a conversão de tudo para DVD, talvez nem nunca ache.
Grosso modo, trata de uma espécie de auto-biografia do autor, portador de HIV, que morreu em meados dos anos 90. Da insanidade dos relacionamentos, do flerte permanente com o perigo, da sua própria canalhice, consigo e com os outros. Não me identifiquei muito, mas ainda assim essas histórias de loucura e sexo sempre são impactantes...
quarta-feira, maio 03, 2006
Uma dor tardia, mas dor
Leandro foi uma das pessoas que conheci no movimento estudantil, em Pelotas. Negro, pobre, lutador. Um grande sujeito. Alegrava onde estivesse, necessariamente. Tolerante, foi uma das pessoas com quem mais convivi num momento em que precisei de tolerância, de amigos desprovidos de preconceitos. E nesse sentido o Leandro foi um grande parceiro.
Mudou para Porto Alegre mais ou menos na mesma época que eu. Conseguimos que ele trabalhasse na Secretaria do Trabalho, era a época em que podíamos... início do governo do Olívio Dutra, em 99. Fizemos festas juntos, éramos uma turma numerosa, até... acreditávamos em coisas boas, que a gente tava mudando o mundo pra melhor... faz pouco tempo, mas faz muito...
Dai depois o Leandro foi desaparecendo... encontrei ele no Brique em 2003, tomamos uma cerveja, ele tava estranho. Lembro que foi uma conversa tão boa que eu logo alguns dias depois liguei pra ele e o telefone não atendeu. Depois o número não "existia mais".
Só agora fiquei sabendo: ele tinha uma doença rara. Por isso mudou pra Porto Alegre naquela época, porque se trataria de forma mais adequada. E que há dois anos morreu.
Estou muito sentido. Porque não tenho a experiência da perda de amigos, de pessoas próximas assim. E sentido de não ter ajudado, de sequer ter compartilhado disso. De ter demorado tanto a saber. Ainda assim, mesmo tardiamente, dói um pouco saber que não vou mais encontrar o Leandro, aí, pela rua, como acontecia antes. Eu seguidamente pensava em como achar ele, onde estaria morando, porque tinha desaparecido... saber agora a notícia é um choque em alguém que não está preparado para perder pessoas queridas, assim, tão jovens...
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