:: eu

Eu sou apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no banco sem parentes importantes e vindo do interior...
Onde e quando nasci: há 28 anos, em Cachoeira do Sul (RS)

Moro em Porto Alegre, na Vila IAPI

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terça-feira, fevereiro 28, 2006

Pop gay

E ontem à noite fui no chamado PoP Gay, festa da segunda, já consagrada no calendário do carnaval daqui.

Eu nunca fui muito entusiasta de determinadas coisas do mundo guei: entre elas os shows de pluma, as drags, esse carnaval high tech todo aí... Logo, não é muito o meu chão, como o carnaval já não é.

Mas fui lá. Até porque ia ter show do Édson Cordeiro. Coisa que ainda não tinha a oportunidade de ver. E gosto dele. Poucas pessoas tem os recursos que ele tem em relação à voz. Faz milagres o cara. Por mais que não seja O idolo, eu respeito o cara. E acho que um cenário guei brasileiro que busque constituir uma identidade, referência positivas, etc, passaria necessariamente pelo Édson Cordeiro.

Pois ficou aquela monotonia toda do concurso de drags e fantasias durante hooooras a fio. E uma tensão muito grande: toda uma "manezada" se mistura à festa pra provocar os gueis, pra fazer piada, pra reclamar. Outros pra bater carteira, outros pra tentar cavar uns trocos fazendo um programa. O clima é de tensão, enfim...

E ai depois de horas daquela coisa toda, chega o show. Começa com Pro dia nascer feliz, segue com Frevo Mulher, o repertório excelente! O show tá maravilhoso... e aí entra um bloco no meio, batucando... já não se ouve mais nada do show...

Dai ele pára um pouco, o público vaia, mas o bloco segue ali, batucando um som monocórdico... Muito esquisito uma cidade que recebe um show excelente daqueles e diz ao cara que não quer, que ele pode encerrar e ir pra casa... E um monte de drags estão lá, na frente do bloco... incompreensível...

Cordeiro volta com as músicas do disco clubbing, mobiliza o público de novo... E começam a estourar foguetes de cima de um prédio. Não é possível pensar em sabotagem, mas até parecia...

Dai pra mim já tinha perdido a graça. Acabamos resolvendo ir embora... E ai hoje vejo que o show foi encerrado antes porque estourou uma briga generalizada, tiros e tudo...

Muito estranha essa terra...


:: por Marcio | 16:37




segunda-feira, fevereiro 27, 2006



Fui a Canasvieiras à tarde, uma das praias mais famosas daqui. Da parte norte da Ilha.

Tudo é muito lindo mesmo. Um pequeno paraíso, apesar de muito habitado, muito apertado. Mas lindo. Tomar uma cerveja olhando e ouvindo o mar. Eu queria isso durante um mês, pra depois decidir o que fazer da vida...

Mas há os percalços: o sistema de transporte aqui é irracional. Você precisa fazer uma escala, trocando de ônibus, no meio do caminho. Muito estranho...


:: por Marcio | 22:19




domingo, fevereiro 26, 2006

Quase um corpo estranho

Como falei, não sou muito de carnaval. A bem da verdade, jamais tinha chegado a um contato como o que eu estou tendo aqui, meio que por acidente. O fato é que ontem fomos ao centro, ficamos ali plantados, numa esquina, mais observando que qualquer outra coisa.

As mais diversas expressões da bizarrice estão ali, forçadas ou expontâneas, até... Muita gente bonita que não me olha, muita gente que me olha que não quero nem perceber... Confirmei ontem que há uma dessintonia brutal entre os meus quereres e os dos outros quanto a mim. Algo que incomoda, mas já parece parte, quase engraçado. Faz com que eu possa passar por um carnaval sem realmente exercer todas as expressões dele...

Mas o contato com o carnaval está sendo interessante, uma experiência nova pra mim. Trata-se de um universo que, afinal de contas, está presente na cultura brasileira, em muitas músicas, na literatura, no cinema... entender o carnaval, mesmo não gostando muito, é importante, mesmo que como curiosidade.

E hoje devo ir à praia...


:: por Marcio | 11:45




sábado, fevereiro 25, 2006

Da magia, do cenário, dos cheiros...

Florianópolis é um lugar que eu conhecia de passar. Conhecia mais a rodoviária interessante do que o resto. Rápidas passagens, uma vinda ao Fórum, escalas rodoviárias, essas coisas.

Pois agora estou aqui. Cheguei ontem já tarde, depois de uma viagem engarrafada, dura, cansativa. Já saimos ontem mesmo, até o centro, onde se dissipava, por volta das 2h(estranho, não?) o carnaval de rua. Fiquei impressionado, porque tudo aquilo que sempre me disseram foi comprovado: o carnaval de Florianópolis é o paraíso da caçada, tudo cheira a sexo. Você não faz se não quer... Bom, mas todo carnaval é um pouco isso. Varia só o público, as pretensões, os objetos, as carnes...

Eu sou o anti-carnaval. Não que não goste de sexo. Mas tenho qualquer coisa... Hoje caminhamos pelo centro, vimos alguns blocos, variados tipos... Muito homem vestido de mulher. Alguns grandes corpos, mas aquela feminilidade forçada pouco me diz. A alegria forçada pouco me diz...

Ainda assim, é improvável que alguém que sinta cheiro e respire possa passar incólume por tudo isso... Sabe lá...

Melancolia

O povo aqui tem orgulho do cenário. "Floripa, teu cenário é uma beleza". De fato. Daqui do morro onde tou hospedado se vê a baía, se vê a Ponte Hercílio Luz. É lindo como poucos lugares podem ser. Mas o povo é diferente do que tou acostumado. E parece que aqui a colonização portuguesa deixou a melancolia mais presente que no próprio gaúcho, que já é triste, estranho. Aqui todos reclamam mais da solidão, dizem ter mais medos, dizem sentir mais a mesquinhez, a falta de contato...

Gostaria de ficar um mês aqui. Tenho certeza de que não seriam apenas as frases que viriam a cabeça: o texto iria pra tela.


:: por Marcio | 21:48




quinta-feira, fevereiro 23, 2006



Jonas precisa viver...

Há sempre coisas a fazer, em meio aos percalços. A ida a Florianópolis, tão adiada, resolvi fazer. Há onde parar, no Baracy, dá pra comer em casa, lá. Na chegada se faz um rancho, vou aproveitar pra voltar a cozinhar. Ganhei ainda uma carona na ida, do Sérgio. Assim, vou gastar só a passagem de volta. Tudo, portanto, conspirando a favor de que eu vá até a capital do nosso estado vizinho ali...

Serão as férias que não vou ter. Um descanso para a cabeça. Não quero beber muito. Nem quero fazer muita festa... quero ler. Quero, aliás, a partir dessa temporada curta retomar um projeto: o romance que tá guardado, em fragmentos, há uns dois anos. Nunca consegui realmente tocar em frente a história do Jonas porque ele tem alguma coisa de alter ego. A história do Jonas me fazia pensar em algumas histórias minhas, entrelaçadas. Dificilmente não é assim... E aí vinham dores que eu preferia não trazer... me fazia fumar muito, beber, chorar, cansar... Mas agora aquilo lá já passou... Jonas precisa viver, logo... ao menos uma primeira versão...


:: por Marcio | 15:41






Não sei dançar

Sempre achei belíssima essa música, primeiro cantada por Marina Lima, em seu CD de 1991. Depois Milton gravou, em seu CD Crooner. É muito triste a letra de Alvin L., mas bonito demais. Muitas coisas que por vezes sentimos. E na terça à noite, entre cigarros, cerveja e choro, me vi muito em alguns versos dela...

Às vezes eu quero chorar
Mas o dia nasce e eu esqueço
Meus olhos se escondem
Onde explodem paixões
E tudo que eu posso te dar
É solidão com vista pro mar
Ou outra coisa p'ra lembrar
Às vezes eu quero demais
E eu nunca sei se eu mereço
Os quartos escuros pulsam
E pedem por nós
E tudo que eu posso te dar
É solidão com vista pro mar
Ou outra coisa p'ra lembrar
Se você quiser eu posso tentar mas
Eu não sei dançar
Tão devagar
Pra te acompanhar


:: por Marcio | 13:32






Viaduto da Conceição II - O extraordinário que dá esperança

Eu era pra ter escrito isso ainda na semana passada. A correria toda me impediu. Mas na quarta-feira, o dia seguinte do meu contato sinistro com a região do Viaduto da Conceição, tive um outro contato, este positivo.

No final da tarde de quarta-feira se reuniram uns 300 estudantes, ligados ao P-SOL e ao PT, basicamente, no sentido de fazer um ato que marcasse a contrariedade com o aumento das passagens do transporte coletivo municipal em Porto Alegre. O ato ocorreu como caminhada pelas principais vias do centro da cidade e passou, justamente, num trajeto meio inusitado, pelo Viaduto da Conceição, sentido Centro-Bairro e por seu túnel. Uma relação completamente diversa: jamais se passa a pé pelo túnel(na verdade são dois, um em cima do outro, um para sair, outro para entrar no Bom Fim). Foi a primeira vez, certamente, que quase todos aqueles andaram por ali assim, caminhando e cantando. E talvez não ocorra de novo. Um verdadeiro extraordinário. No dia seguinte, aliás, sou um dos primeiros na foto que saiu em Zero Hora, do ato passando por dentro do túnel.

Mas o que me deixou feliz foi acontecer o ato, em si. Num momento em que parece tão demodé se manifestar, ser de esquerda, ainda mais com toda a decepção que o governo Lula causou em tantos de nós, ver uma gurizada que tem dez anos a menos que eu saindo pra rua, como eu comecei a sair de 93, 94, isso faz bem, re-motiva um adulto amargurado com a política, com eu virei. Nesse final de tarde voltei a acreditar mais que é possível ainda fazer política pela esquerda e, lá na frente, mudar de forma radical a vida das pessoas pra melhor. Passei a entender que há, sim, um espaço para o P-SOL ocupar, onde antes o PT fazia o papel com peso: expressar as insatisfações da sociedade, propor alternativas.

Foi o extraordinário que traz esperança. Mesmo que ainda não seja o "extraordinário se tornando cotidiano", de que falava Che, pra definir a Revolução.


:: por Marcio | 10:11






Dor II

Segunda e terça a azia tinha comido solta... ontem eu melhorei um pouco... ainda arde um pouco, como se qualquer coisa que eu fosse comer ou beber viesse sempre a fazer mal. Mas já tá passando... E ontem eu caí na Rua da Praia, escorreguei num sorvete derramado. Tive sorte de cair já amparado no meu reflexo. Mal sujei um pouco da calça... Antes, cedo, no pátio de casa, tinha arranhado o pé... Realmente eu tenho que cuidar... é como se tivesse puxando as coisas ruins...


:: por Marcio | 10:02






Dor

É quase sempre assim: eu sou a pessoa na hora errada, do jeito errado, eu trago peso.

Mas eu não quero falar sobre dor, não agora.

(Esse post tinha sido deletado, agora voltou... eu quero me expressar, ao menos aqui)


:: por Marcio | 10:00




domingo, fevereiro 19, 2006



Em meio a toda essa fragilidade que estava, fui ver Crash - No limite, filme de David Cronenberg. Não recomendo a quem estiver assim, como estou. Foi uma pancada!

A história se dá a partir do roubo de um carro. Se desdobram situações nas vidas de uma dezena de personagens ricos, contraditórios, de diversas etnias em uma Los Angeles que é afinal apenas um símbolo de qualquer cidade grande em que possamos estar. O filme fala sobre racismo, sobre a honestidade das pessoas, sobre a intolerância e sobre como as pessoas podem se comportar em situações-limite. É um filme que merece ser visto e pensado.


:: por Marcio | 14:52






Ironias

No post anterior falava do medo que tinha passado, que poderia ter sido assaltado, etc, etc.

Pois sexta-feira fui assaltado. É como se eu tivesse sido advertido e não entendi o recado. Sai meio alcoolizado de um bar, passado da meia-noite, fiquei esperando pela minha lotação num local vulnerável, quando me vi cercado, não tinha pra onde correr. Ameaças, um soco, dinheiro roubado, mochila com dois livros - um comprado no dia - Ovo Apunhalado, de Caio Fernando Abreu - o outro emprestado da Unisinos - terei de pagar, com certeza. Um prejuízo financeiro sério, mas o principal é o trauma. Por algum motivo, nunca fiquei tão mal depois de um assalto como dessa vez. Estou realmente fragilizado, já chorei várias vezes. Estou fazendo reflexões sobre os meus vacilos, sobre algumas convicções, alguns riscos que eu corro. Não vou sair dessa crise como entrei, isso é certo.

Uma das coisas que quero daqui pra frente é valorizar mais meus porto-seguros: sem dinheiro, no centro, logo liguei pra minha avó, ela me recebeu na porta de casa, com pagou o táxi, me amparou, ainda está à minha volta, me cuidando. Nessas horas se vê o peso que tem um familiar que gosta de ti e sabe te ajudar.

E sei lá, acho que vai ter desdobramentos. Já teve um, há pouco, a bem da verdade... Mas terão muitos: tou querendo fazer análise, talvez precise tomar calmantes por algum tempo, sei lá, ser mais forte e admitir mais minhas fragilizades, o que é, aliás, uma forma de ser forte.


:: por Marcio | 14:43




quinta-feira, fevereiro 16, 2006



Viaduto da Conceição I - O Medo

Um viaduto nunca é a poesia da cidade. O Da Conceição, na entrada/saída de Porto Alegre não é diferente: é feio, sujo, apertado. Em sua volta há terminais de ônibus metropolitanos, uma estação do trem, a Estação Rodoviária, boates do inferno, hotéis sujos, tudo isso. Logo, você não entra ou sai da cidade sem passar por ali. Ao menos 80% das pessoas.

Ocorre que infelizmente essa grande zona de algumas quadras que eu estou chamando, grosso modo, por Viaduto da Conceição, se tornou uma zona tão perigosa - estou usando de um exagero, óbvio - quanto uma Faixa de Gaza. Se tornou perigoso sair da Rodoviária, por exemplo, muito mais do que sempre foi. Há alguns dias morreu um menino - foi abordado na saída da Rodoviária e levado até um tapume de obra, onde foi morto para roubarem a mochila. Não foi a primeira vítima dessa região. Assaltos são vários por dia.

No domingo eu cheguei 23h em Porto. Não tive coragem de atravessar a rua e pegar o ônibus do outro lado. Peguei ele e andei até o centro para voltar depois para o bairro. São quinze minutos a mais, mas é a vida, afinal... E olhem que nunca fui medroso, de entrar nessa onda do pânico, medo da violência. Mas tem horas em que as evidências são concretas.

Na terça, sai com uns amigos, pra beber umas cervejas. Lá pelas tantas um deles precisa encontrar a namorada, lhe entregar um dinheiro e leva-la até o início da Farrapos - uma avenida que começa no Viaduto da Conceição - para que ela pegasse a lotação. E depois seguiríamos o porre. Pois poucas vezes senti(mos) tanto medo. Eram 21h, mas parecia uma zona de guerra. Todo mundo nos olhava como seres estranhos, como alvos. Lá pelas tantas alguém passa oferecendo uma corrente de ouro a R$ 20 ou um celular a R$ 40. Desovando o fruto de um assalto, claramente. No que a guria pegou a lotação, pegamos um táxi para fugir dali, salvos. Pânico.

O que mais impressiona numa situação dessas é que nessas "boca-braba" a polícia não está. A orientação desse governinho de merda, cujo chefe ainda por cima quer ser Presidente da República, saiba-se lá porque cargas d´água, é justamente de proteger os lugares onde estão os ricos. Vá no mesmo horário na Calçada da Fama e lá haverão dez carros da PM. Mas onde bastariam uns dois carros circulando o tempo todo para resolver o problema, eles nunca aparecem. Curioso isso...


:: por Marcio | 09:30




segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Atropelamento

Ler A hora da estrela, de Clarice Lispector, é uma experiência que necessariamente impacta. Você se sente atropelado, emocionalmente. O li na viagem para Pelotas, duas horas, 80 páginas.

Primeiro porque é um grande texto, como texto. Joga com frases, estoura a língua, debate a narrativa num jogo que dura a primeira parte do texto e já te deixa atordoado: como pode alguém ser tão bom?

E depois porque a história de Macabéa, certamente um dos grandes personagens que a literatura brasileira já produziu, é um pouco a história de cada um de nós: a imigrante nordestina que, feia, sem cultura e sem dinheiro, vai se aventurar no centro do país e que, fundamentalmente se fode - não de forma literal... nem isso Macabéa consegue.

Há muita coisa pra analisar, ai já não seria uma mera informação dum blog. Mas o jogo da sexualidade reprimida, o desejo ardente e contido, o sofrimento todo, é impressionante. A idéia é ter esse livro e poder rele-lo com uma caneta na mão, destacando frases... coisa pra daqui mais um ano...


:: por Marcio | 08:23




segunda-feira, fevereiro 06, 2006



Raramente assisto um filme logo nos seus primeiros dias de exibição. Mas fui ver logo no sábado o excelente Brokeback Mountain, de Ang Lee. Filme que não é apenas candidato a melhor do ano passado, mas a um dos filmes mais importantes da década, pela sua qualidade e pelo papel a que pode se prestar, se bem aproveitado.

A história de amor de Ennie Del Mar(Heath Ledger, um ator tão expressivo que me lembrou Brando, pela beleza dura) e Jack Twist(o não menos ator e não menos belo Jake Gyllenhaal), dois cowboys que se conhecem ao irem trabalhar juntos durante o verão em uma montanha, pastoreando ovelhas, é a expressão de uma série de questões que envelvem a homossexualidade.

A partir da acidentada relação entre eles, o filme desdobrará sobre o quanto as relações construídas de forma forçada(os casamentos que ambos empreendem com mulheres) são fadadas ao fracasso, de quanto alguém só pode ser feliz se buscar a felicidade; do quanto as relações família-homossexuais são um fracasso, geralmente, e de quanto todos perdem com isso; do quanto o preconceito da sociedade é ruim pra quem sofre o preconceito e não resolve o problema da sociedade, porque os fatos contra os quais os homofóbicos lutam seguirão ocorrendo, gostem eles ou não.

O filme é mais um desses doloridos filmes de final triste, sem realização. Mas mostra que o amor vale a pena, que existe, inclusive entre dois homens. Tem fotografia maravilhosa, um roteiro equilibrado, com cenas magistrais. A melhor de todas é o reencontro deles, quatro anos depois da temporada inicial deles na montanha que dá título ao filme.

A Vó junto

Fui ver o filme com minha avó, com quem eu moro. Ela é uma pessoa que já "enfrentou" o tema diversas vezes, especialmente nos últimos anos. O filho mais novo, o neto mais velho... trata-se de uma pessoa desse tempo. Chorou ao final do filme. Ontem ela fazia uma reflexão sobre o quanto estão erradas as famílias que abrem mão de conviver com os filhos porque são gueis. O quanto ambos perdem com isso(conforme falei acima, aliás). Creio que seja um filme bom das famílias verem. Faz pensar. Nem que seja na base do joelhaço, porque o filme é um soco no estômago, independente da boa ou má vontade que você possa ter, previamente.

O despreparo do público

Felipe, amigo que mora em Londres, já havia comentado do quanto tinha achado ruim a atitude do público durante o filme. Num dos momentos mais fortes do filme, - quando a mulher de Ennie flagra pela janela os dois se beijando - o público ri. Mesma reação aqui, mesmo num cinema lotado de gueis. Não sei explicar... acho ruim, mas não diria que é simplesmente por mal, por repúdio ou o que for... é despreparo para enfrentar as situações que lhes causam choque, basicamente isso.


:: por Marcio | 08:25




sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Leituras

Também ontem terminei de ler um romance policial clássico, considerado talvez o grande romance policial do século XX: O Falcão Maltês, de Dashiell Hammett, que também gerou um dos grandes filmes de todos os tempos, estrelado por Humprey Bogart no papel principal. A história, confusa, gira em torno de assassinatos e perseguições de um bando de criminosos internacionais e um detetive particular em busca de uma estatua de ouro de um pássaro ? o que dá título ao romance ? que vale milhões. A história se diferencia da trama clássica do mistério em torno de um assassinato clássico, em que se busca o criminoso. Nessa história, de alguma forma, já se imagina quem seja o criminoso, não há bem e mal, nada disso. É uma das primeiras aparições da idéia de crime organizado, décadas antes desse fenômeno ser tão importante para explicar a sociedade, como certamente é hoje. É, no mínimo, uma leitura curiosa de se fazer, esse livro.


:: por Marcio | 09:26






Raizes do Brasil

Coronelismo, Enxada e Voto, de Victor Nunes Leal, é um clássico da ciência política/sociologia brasileira. O livro, escrito na década de 50, é fundamental pra quem quer entender a história do Brasil em detalhes, especialmente no funcionamento das suas instituições políticas, nos instrumentos de reprodução do poder.
Ler esse livro desperta dois sentimentos: um é de sentir um pouco explicado porque ainda vivemos o coronelismo em tantos lugares, onde as relações de poder se sustentam na ponta da faca ou no revólver. Por outro lado, se percebe avanços, sim... vivemos em um país melhor, que talvez até já tenha avançado muito, se considerarmos o que era a política há um século atrás. Que talvez grandes países não tenham tido tamanha velocidade nas reformas das suas instituições. E o que é mais maluco: estamos vivendo o mais longo período de democracia formal da história, agora, nesses vinte anos.
Então, apesar dos pesares, devemos analisar friamente e ver que há avanços. Por mais que a fome tenha pressa e esses avanços devam ser ainda acelerados...


:: por Marcio | 09:13