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Eu sou apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no banco sem parentes importantes e vindo do interior...
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segunda-feira, outubro 31, 2005

Peso

Para quem busca na leitura de ficção uma simples diversão, um momento ameno, deve passar longe de João Gilberto Noll. Trata-se de uma escrita pesada. Li no final de semana seu romance Harmada, que foi adaptado recentemente para o cinema(num filme que talvez nem chegue à sua cidade, infelizmente, dada a precariedade da distribuição). Como sempre, o romance não tem uma história linear, um enredo claramente descritível, para se contar. Trata-se de um homem de personalidade complexa buscando resolver seus estranhamentos e sobreviver em meio a personagens que entram e saem sem maiores explicações. O protagonista é um ator de teatro que, durante um longo tempo, se refugia em um asilo, em meio a velhos, onde lhes conta histórias, em boa parte, que ele viveu. Após, foge com uma menina que se torna como que sua filha.
Por mais que pareça muito estranho - e é -, o texto de Noll é fascinante pelo cuidado com cada palavra que ele parece ter, coisa de grande escritor. E com o fato de que em meio a todo aquele estranhamento, nos vemos. Sempre que leio Noll sinto vontade de sair escrevendo. Talvez para um dia, quem sabe, chegar perto...


:: por Marcio | 17:21




quinta-feira, outubro 27, 2005

Excreções e desatinos

O que faz alguém cagar e depois espalhar a merda em toda a privada, num banheiro público de um prédio de uma faculdade?

Só pode ter merda na cabeça...


:: por Marcio | 18:52






A história da formação da cidade

Décio Freitas morreu ano passado. Era o historiador mais badalado da praça, escrevia para a Zero Hora, era uma espécie de "históriador preferido das elites", poderia se dizer, grosso modo.

O maior crime da terra, um de seus livros, "meio que" resgatou uma história escondida da cidade de Porto Alegre, de meados do século XIX: os chamados "crimes da Rua do Arvoredo". Um casal - José Ramos e Catarina Palse - mais um acougueiro mataram quase uma dezena de pessoas de forma brutal e, não se contentando, esquartejaram e fizeram linguiça com sua carne. José Ramos a vendia às grandes autoridades da cidade, de carroça, oferecendo de casa em casa. O que sobrava, o acougueiro vendia em seu estabelecimento.

O livro trata disso. Uma história incômoda que foi escondida por muito tempo, de muitas formas. Décio conta que descobriu o assunto quando fez, ainda jovem, uma serie de reportagens sobre crimes célebres da história da cidade. Publicou os crimes de José Ramos mas foi recomendado depois a deixar o assunto. Os processos que haviam sido base de sua pesquisa sumiram... Enfim, trata-se de um episódio que à época foram reprimidas as investigações e que um século depois continuava sendo encoberto, dada a vergonha que gerava, tornando-o um tabu.

De um lado, tem o mérito de trazer à tona a história, mais uma vez. De situar um pouco o modo como a cidade vivia naquele período, um pouco sobre o funcionamento da Polícia, que era absolutamente misturada com o Judiciário, num sistema absolutamente inquisitorial(mistura das funções de acusação e julgamento de crimes), além de curiosas descrições sobre ruas.

Por outro lado, fica um sentimento do livro ser um pouco superficial em relação aos crimes. Não se definir entre uma reportagem e um romance. Tanto assim que gerou outros livros posteriores, teses acadêmicas, sempre procurando demonstrar equívocos na abordagem que Décio fez.

Não sei maiores detalhes. Mas achei instigante... Creio que as cidades deveriam reconstruir melhor sua história, reforçando, assim, sua identidade como tais.


:: por Marcio | 13:55




quarta-feira, outubro 26, 2005

A primeira sessão de autógrafos

Ontem foi lançada a antologia 102 que contam, reunindo histórias de alunos e ex-alunos das oficinas literárias coordenadas pelo escritor Charles Kiefer. Dentre eles, estava incluído com o conto que está abaixo, no post anterior.

A iniciativa é muito boa. A gente se sente satisfeito, é uma sensação bastante recompensatória se ver publicado, mesmo que entre tantos. É bastante estranho autografar livros, me senti muito constrangido, passando a entender muito bem o porque de tantos escritores que vivem reclusos e se negam a participar de momentos de badalação pública.

A publicação me fez sentir a necessidade de voltar a ler mais literatura e especialmente a voltar a dedicar algumas horas por semana a seguir escrevendo. Para que não tenha sido a de ontem a minha única publicação.


:: por Marcio | 13:11






JOGOS

PURIFICAÇÃO

Era isso que aquele banho devia oferecer. É apenas um bom banho quente, melhor que o chuveiro habitualmente queimado, da sua casa. Limpa seu suor, o cheiro de mulher, o esperma, mas não a culpa. Marcelo se seca com uma toalha azul celeste emprestada, do amigo Edgar. Nas vezes em que já o visitou e mesmo usou seu banheiro, sua toalha, seu perfume, sempre se sentiu melhor na acolhida do outro que no sexo de agora.

IMPACIÊNCIA

Na sala está Adriana, mais um cigarro de uma série, enquanto aguarda para tomar banho, também. Tem sono e quer se ver livro do parceiro, para descansar. De manhã, tem que pegar Edgar no Aeroporto, às onze. O nervosismo que Marcelo estava demonstrando agora não lhe agrada em nada, não quer conversas culpadas entre mulher e amigo do traído. Não acredita nisso.

TEMOR

Conseguirá que ela não conte o recém-ocorrido ao Edgar? "Foi tudo por acidente: a gente conversou, ela começou a provocar... Depois que a gente se chapou, fiquei bêbado, quando vi.." Nada disso cola. Ao menos não deveria ter feito ali, na casa dele... Ela sempre acaba contando tudo para o namorado, por mais que ele implore para não saber.

CONTROLE

Adriana detesta a amizade entre Marcelo e Edgar. Sempre viu nela um grande perigo para o controle que exerce sobre seu relacionamento, o perigo de que talvez seu namorado um dia a deixe, não aceite mais as regras que ela sempre impôs: liberdade de relações extraconjugais que só ela mantém; o trabalho dele que sustenta o estudo dela; a hospedagem freqüente do seu irmão que Edgar detesta, pra falar de algumas das opressões que irritam os amigos mais próximos dele, especialmente os que o influenciam: Marcelo, especialmente. Quebrar o elo entre eles sempre foi um objetivo: dividir para dominar.

CONSTRANGIMENTO

Ele sai do banho já de calça, sem camisa. Não consegue mais andar pela casa completamente nu, como antes. O arrependimento e a vontade de sair dali o mais rapidamente possível são suas vontades. Ela lhe sorri de uma forma que não sabe interpretar se como cinismo ou ironia. É dona da situação: logo após treparem, foi à janela fumar. Sentiu-se como nas vezes em que pagou por sexo: frieza, conquista barata, nojo. Mais alguns minutos naquele lugar lhe serão pesados. Ele circula, olha com atenção e culpa as fotos do amigo pelas paredes e mesas. Aproxima um desses porta-retratos, olha fixo para a foto de Edgar, como a lhe pedir perdão ou o que fosse possível. Quando o verá de novo? Sente culpa, mas sente principalmente saudade, carinho. Mexe discretamente no roupeiro: mais perfumes, o calção com que o outro joga futebol, camisas conhecidas, coisas que conhece em Edgar, na intimidade que compartilham, infinitamente menor que a idealizada, ao menos por ele.

ESCAPE

Ela sai do banheiro apenas de calcinha e camiseta. Ele confirma que vai embora, apesar da insistência breve dela para que fique: podiam ver os jogos que estão passando na madrugada, das Olimpíadas. Se abraçam à porta, não chegam a se beijar. Ele está tenso, nem disfarça. Ela mantém o sorriso vitorioso.

REVELAÇÕES

Pela manhã, antes de sair de casa, ela já deixa os ingredientes prontos para o almoço que fará assim que chegarem de volta do Aeroporto e vai buscar o namorado. Espera por uns dez minutos a mais que o previsto, é um pequeno atraso do vôo. Sem tirar os óculos escuros, abraça Edgar assim que ele sai do portão de desembarque, pegando pela alça uma das suas malas. Ele conta que teve um vôo um tanto turbulento, há chuvas esparsas no Paraná. E pergunta como ela se virou nesses dias, sozinha.
"Muito bem. Acho que passei nas duas provas que eu fiz, viu? Eu andava preocupada, tu sabe." Ainda dentro do saguão, já se encaminhando para a porta de saída, acende um cigarro. E segue contando as novidades: "Ah, adivinha quem teve lá em casa, vendo as Olimpíadas, essa noite..."


:: por Marcio | 13:09




terça-feira, outubro 25, 2005

Talvez o maior

Ler Machado de Assis é sempre interessante. Mas como já falei em outra oportunidade aqui, é algo que se demora a perceber o quanto é bom. Logo que entramos no segundo grau, somos obrigados a ler os clássicos e passamos a achar um saco. Mas Machado é certamente o melhor ou o segundo melhor escritor brasileiro de todos os tempos - eu sou muito fã de Lima Barreto. Ler suas obras significa tomar parte de um Brasil que os brasileiros não conhecem quase nada: nosso período do Império. Perceber um período em que a escravidão era um instituto natural soa estranho. Sabemos que o Brasil foi o último país do mundo a abolir formalmente a escravidão. E que ainda não aboliu-a materialmente. Ler Machado, nessa idade que tenho, faz refletir sobre coisas interessantes... Certamente um país que se preocupasse com uma formação mais clara de uma identidade teria mais estátuas de Machado de Assis e Lima Barreto e menos estátuas de generais...

Memorial de Aires foi o último romance dele, publicado em 1905, ano de sua morte. Tem a clareza de um Machado maduro, já um tanto fora do tempo em que tinha desenvolvido boa parte de sua obra. Está lá, em um grande romance.


:: por Marcio | 16:46








Luiz Alfredo Garcia Roza é um escritor de trajetória interessante: depois de ter atingido tudo o que um profissional poderia atingir na Academia, como professor e pesquisador na área de psicologia, resolveu tentar a sorte publicando ficção. Mais peculiar ainda: romances policiais.

Hoje terminei de ler seu segundo romance - e o segundo que eu leio - Achados e Perdidos. A história começa com o assassinato de uma prostituta no Rio de Janeiro. Mulher essa que tinha um caso com um delegado aposentado. A partir daí, uma série de mortes e perseguições vão montando um enredo complexo que envolve o aposentado Vieira e o delegado Espinoza, que é o personagem de Garcia Roza em todos os seus romances - característica de muitos autores desse gênero. Trata-se de um livro muito bem escrito, empolgante como deve ser uma história policial e com um tom tão agradável que nos faz sentir no calçadão de Copacabana, cenário por onde circulam os personagens.

Em menos de dez anos, Garcia Roza virou autor com grande vendagem, tradução em diversos idiomas. Pode se dizer mesmo que ele está sendo responsável por uma invenção do romance policial no Brasil, tarefa um tanto ingrata, considerando que os dias de hoje e a realidade de um país como o nosso não permitem muito se pensar num gênero policial muito prestigiado. A idéia de uma grande dedicação de um grupo de policiais a desvendar um crime é algo pouco verossímil em considerando-se a pilha de inquéritos abarrotando as mesas de autoridades policiais. Mas o autor brinca com isso, joga com a realidade e o glamour exigido ao gênero, tornando suas histórias interessantes. Bela leitura!


:: por Marcio | 12:58








O fato de Lutero ter sido um filme financiado pela Igreja Luterana como forma de divulgação de sua história pode tornar o protagonista um herói maior do que foi, mas não tira do filme a sua condição: um grande trabalho.

A história da cisão da Igreja Católica diante da chamada Reforma Protestante é um episódio importante da história da humanidade. Max Weber escreveu um livro em que procura demonstrar que a criação e expansão do luteranismo é um dos elementos centrais para explicar também a consolidação do capitalismo como sistema econômico, dado que os dogmas católicos - de então - emperravam a expansão das idéias capitalistas, dado que condenavam muito o lucro, a riqueza, o que a religião protestante passou a não fazer.

Mas sobre o filme: tem grande atores, belíssimos cenários, direção de arte, tudo isso. Tecnicamente, é cinema do bom. Vale a pena, é um bom filme pra se ver numa tarde de sábado em que não haja nada melhor... ou já se tenha feito o que de melhor é possível fazer numa tarde de sábado.


:: por Marcio | 12:32




segunda-feira, outubro 24, 2005

Parece piada

Um episódio ocorrido em Minas Gerais na madrugada de sábado para domingo, num boteco, ilustra o que estava em jogo ontem e as pessoas não entenderam:

Dois sujeitos discutiam sobre as posições do referendo que dali a algumas horas ocorreria, meio bêbados. Lá pelas tantas o defensor do Não começou a se exaltar e gritar. Sacou uma arma e deu três tiros no peito do outro.

Defendia o direito de continuar fazendo isso...


:: por Marcio | 13:07






Apesar da deprê...

... em razão do resultado acachapante do Referendo de ontem, vou tentar retomar esse espaço de novo.

Por que a tristeza?

Porque eu sou um sonhador, meio idealista. Gostaria de viver num mundo onde as pessoas não se dispusessem a resolver tudo na faca ou na bala. Até porque nesse mundo que resolve as coisas na faca e na bala, quem prevalece não é o justo, é o forte. Infelizmente, quando vejo algumas pessoas falarem, vejo que ainda não conseguimos sequer consolidar determinadas coisas do iluminismo. O resultado avassalador de ontem, - em que 85% das pessoas do meu estado decidiram manter o direito de uma meia dúzia de homens brancos, ricos e heterossexuais terem o direito de seguirem matando suas mulheres ou algum pobre que atravesse à sua frente ou resolver a briga no bar da esquina à força apenas porque pode ter uma arma - é um sinal de que boa parte dos valores em que acreditam nunca prevalecerão ou ao menos nunca verei eles prevalecerem em vida.

E isso me deixa desestimulado a seguir estudante p´ra ser um advogado que quer defender a justiça, os pobres, os direitos constitucionais. Isso tudo é balela, no imaginário de mais de 60% dos brasileiros. A vida não é a prioridade, mas o patrimônio.

Muitos outros Maurícios terão de ocorrer: o primo com quem me criei que, aos 13 brincava com uma arma de fogo do pai de um amigo e, acidentalmente, levou um tiro. Nunca mais caminhou. Tantos jovens que se matam com a arma que o pai paranóico um dia comprou pra defender sua família de um inimigo imaginário. Tantas mulheres que são mortas por seus maridos numa briga que deveria ser resolvida com um simples divórcio.

O que mais me choca é que dentre os 60% de ontem, muitos não são brancos, ricos, heterossexuais nem homens. Portanto, só terão algum contato com arma para serem delas vítimas. E não se dão conta disso.


:: por Marcio | 12:56




terça-feira, outubro 11, 2005

Deveria

Eu tinha que tentar retomar esse espaço aqui. Não tá fácil...


:: por Marcio | 17:46




segunda-feira, outubro 03, 2005

Um pequeno desabafo

Ontem foi um dia amargurante, sem dúvida alguma.
Porque o futebol é uma das manifestações mais bonitas que o povo pode fazer. E o final de semana em Porto Alegre ? um final de semana quente, com um sol bonito ? tinha tudo para ser inesquecível. No sábado, o greminho, que disputa a segunda divisão do Brasileiro, disputava uma partida importante para seus objetivos, que são de um dia deixar de ser um timinho de segunda divisão. Botou umas quarenta mil pessoas no seu estádio(bem, chamar o Olímpico de estádio é um exagero, mas...). No domingo, o Inter, provando ser um clube maior, mais popular, colocou cerca de cinqüenta mil pessoas em seu jogo.
Mas sem brincadeira: noventa mil pessoas se movimentaram em função da paixão pelo futebol na capital. Numa cidade pequena, que tem, afinal, um pouco mais de um milhão de habitantes. Seria como dizer que quase dez por cento da população da cidade foi a um jogo.
Bonito isso, independente de pra quem se torça ou mesmo pra quem não gosta de futebol. Há um fato: as pessoas se divertiam, curtiam um pouco uma coisa que lhes dá algum prazer.
No final do jogo de ontem, uma briga no interior de uma organizada ? coisa que as próprias organizadas regulam, por sua conta ? mereceu, na avaliação da Brigada Militar, a interferência policial, a cassetetes. Em pouco tempo a Brigada ocupou a área da Torcida Camisa 12 e tudo parecia resolvido. O jogo termina e a Brigada segue batendo nas pessoas à volta da 12, como que querendo manter o confronto. Da arquibancada superior, exatamente da altura acima à que ocorriam os fatos, populares começaram a reagir contra a BM ? uso a expressão ?populares? como contraponto a eventuais torcedores organizados, que são estigmatizados como baderneiros, etc. Como forma de expressar a raiva contra a Polícia ? que é senso comum entre quem freqüenta futebol no Estádio, por um histórico de truculência contra as pessoas comuns -, começaram a ser arremessados engradados e outras coisas da superior para onde ocorriam os fatos, na chamada Geral.
Pude testemunhar, do anel superior, o que ocorria lá embaixo: a Brigada começou a fazer o que lhes cabia: tentar se retirar do local, evitando que o confronto se extendesse indefinidamente. Nesse momento de recuo, parte da torcida ? provavelmente a maioria de membros da 12 ? passaram a atacar a Brigada, jogando pedaços da arquibancada, tambores e outros. A retirada dos brigadianos se dava através de portões da Popular Placar, setor vizinho ao local do confronto inicial. Para sair por esse local, a PM atropelava populares que nada tinham com a briga. Nunca vou esquecer a cena de um rapaz de uns trinta e poucos anos abraçando uma senhora, talvez sua mãe, que os brigadianos estavam levando de arrasto, numa violência desesperada, tentando fugir do ataque. Quando tudo parecia se encaminhar para um final, já que quase todo o pelotão estava protegido e se retirando, alguns brigadianos começaram a jogar de volta os pedaços de pedra que lhes tinham sido jogados, numa postura irracional, que jamais imaginei que veria acontecer ? até porque a Polícia tem que evitar o confronto, se defender e defender aos cidadãos, nunca revidar como se uma gangue fosse. E de tijolos na mão, a linha de frente do pelotão avançou de novo, generalizando o confronto. A partir daí, começaram a chegar reforços e a serem lançadas bombas de efeito moral.
Nesse momento, mesmo estando quase em choque, resolvi sair do Estádio, apesar dos riscos de qualquer movimento àquele momento. Achei que a violência poderia ecoar sobre a superior também. Bingo! Da rampa lotada ouvíamos as bombas estourando na arquibancada e o chão tremendo, longe. Pessoas chorando. Na rua, a polícia montada chegando, avançando com a rotineira truculência sobre pessoas que só queriam sair dali. Depois saberíamos que as bombas foram lançadas contra a multidão na Geral, na Social, para cima, visando atingir a Superior. Qual o sentido disso tudo?
Fica claro que há um senso de impunidade, dado que a arrogância com quem os comandantes da operação e o Sr Secretário de Segurança responderam aos apelos da imprensa foram chocantes, para quem havia sido testemunha ocular ou vítima dos fatos ? crianças mutiladas, velhos agredidos, jovens atacados. Uma violência inominável ocorreu ontem no Beira-Rio. Culpa da truculência institucional da Brigada Militar do RS.
O reflexo disso é um amargo em cada uma das pessoas que lá estiveram. A impressão de que não vale a pena sair de casa para sofrer esse tipo de violência ? tanto física quanto moral. Estraga o bom humor e a fraternidade típica de quem vai ao Estádio ver seu time, vibrar, descarregar as frustrações, tudo isso que faz o futebol ser a maior paixão nacional. Seguirei indo aos jogos, porque sei que há risco em tudo. Cazuza já dizia, se referindo a outras coisas, que ?o meu prazer agora é risco de vida?, o que vale para o caso que estamos tratando. Mas em tudo há risco. Mas as minhas decisões eu tomo, como adulto, independente, livre. Mas e um pai de família que ontem estivesse levando seu filho pensará como eu? Dificilmente. Se tivesse um sobrinho ou filho de um amigo comigo ontem, dificilmente o levaria de novo, posso dizer de pronto. Se tenho medo da minha integridade física, o que dizer de alguém porque sejamos responsáveis?
Infelizmente, mais uma vez, é a violência do Estado contra o povo que cria o pânico. Fica o temor e as dúvidas. E a ânsia por respostas...


:: por Marcio | 14:07