quarta-feira, setembro 21, 2005

Ontem fui ver mais um desses "filmes necessários" que falei no post anterior, sobre Hotel Ruanda.
Memória do Saqueio é um documentário argentino, dirigido por Fernando Solanas e conta a história da Argentina nos últimos vinte anos, da redemocratização até o panelaço do final de 2001 que levou o presidente De La Rua a renunciar, diante da tomada das ruas pelos populares.
Mesmo que tenhamos muita rivalidade - uma coisa meio futebolesca-irracional - somos parecidos com os argentinos. Não me venham com "eles são mais europeizados" ou "não, eles são pnc"... Nada disso: somos todos latinos, eles talvez um pouco mais sangue-quente que nós, mas o esquema de dominação que é mostrado no filme, a miséria de uma parcela expressiva da população, uma elite política corrupta ou corruptível, tudo isso parece muito. Alfonsín parece Sarney, Menem parece Collor, De La Rua parece Lula... enquanto andava o filme, eu via a nossa história, correndo em paralelo.
Merece atenção, esse Memórias do Saqueio.
sábado, setembro 17, 2005
É querer!
Quando você resolve fazer um negócio bem feito, precisa se empenhar muito. Eu sou assim: quando entro numa coisa, é obssessivamente. Assim eu sempre fui com a política, me tornando um chato; assim eu sou com a matéria de aula, lendo várias fontes além do básico; essa semana fui fazer uma primeira petição inicial e vi que não me contento em consultar e citar a legislação, o "feijão-com-arroz" já suficiente: fiquei dois dias pesquisando; quando voltei a acompanhar futebol, me associei no Inter e vou a quase todos os jogos.
Só isso justifica uma pessoa estar na sua universidade num sábado pela manhã para assistir a um curso sobre normas da ABNT. Porque necessariamente cheira a irracionalidade...
quinta-feira, setembro 08, 2005

Há filmes que não são bons ou ruins. São necessários. Esse é o caso de Hotel Ruanda.
Ruanda é um país africano. Onde só mora negros. Por isso, os olhos do mundo inteiro não estão voltados para lá. Assim, pôde acontecer de uma guerra civil gerar mais de um milhão de mortes sem que o "mundo civilizado" intervisse de forma razoável para evitar o problema. Essa é a lição que o filme procura nos dar, através da história de seu protagonista, um gerente negro de um hotel belga para brancos que, quando os donos do hotel fogem, torna o hotel um campo de refugiados.
Mas o que o filme me trouxe foi mais: porque a violência? A humanidade evolui através da opressão de uns sobre outros? Genocídios resolvem algum problema? E fiquei a pensar sobre muitas coisas...
E triste: sai a caminhar ontem, depois de ver o filme, pensando no quanto somos maus. E no quanto somos alienados, já que os fatos tratados no filme são de 1994, num país africano da qual saiu talvez uma parte do nosso povo brasileiro de hoje - os descendentes de escravos sequer tem certeza de onde está sua origem precisa - e nós não ficamos nem sabendo desses fatos, à época, senão superficialmente. Somos insensíveis e alienados com nossos irmãos.
terça-feira, setembro 06, 2005

Passando em segunda temporada por aqui, fui ver Cabra Cega, de Toni Venturi, certamente o melhor filme brasileiro desse ano, que anda mais pobre de produções que já tivemos em outros anos.
Cabra Cega trata da história de um homem que, caçado pelos militares nos anos 70, é levado para o apartamento de um arquiteto colaborador, onde fica refugiado, convivendo com o dono do apartamento, com uma menina companheira de organização que vai todo dia visitá-lo e com a vizinha do apartamento da frente, uma senhora espanhola que perdeu o filho no tempo da ditadura de Franco.
Trata-se de um filme tecnicamente primoroso: bons atores, trilha sonora magnífica, boa fotografia, boa direção de arte, todas essas coisas. E tem um roteiro muito bem escrito, que explora o enredo com grande talento. É um filme que incomoda, que dói o tempo todo pela tensão que traz e pelos pensamentos incômdos que necessariamente ele desperta: o que a esquerda que tanto sofreu fez consigo própria? Nada melhor que ver esse filme para se sentir obrigado a reagir a esse momento atual, anos 00, em que todos nós que queremos mudar o mundo estamos nos sentido assim, tão traídos, tão desestimulados. Há gente que sofreu bem mais que nós...
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