domingo, dezembro 24, 2006
Eu me criei ouvindo os soberbos gremistas dizerem que tinham um título que nós, colorados, nunca teriamos. Ta aí. O deles é de questionável legitimação, o nosso não.
A vitória do Internacional não é apenas a de um clube popular, de torcida do povo, altamente representada nas vilas de Porto Alegre. É a vitória de uma tradição do futebol brasileiro, que finalmente ganha a internacionalidade que sempre esteve a merecer.
O fato de vencer o Barcelona, mais organizado e rico time do mundo, torna o título ainda mais importante e legítimo, como o fora o da Libertadores contra o grande, rico e organizado São Paulo, três vezes campeão do mundo.
Dá-lhe Inter!
Natal
Então é Natal... Não sou religioso e nem tão consumista assim. Apesar de tudo, é sempre momento de conviver com a família, pra bem e pra mal; pra pensar atitudes, rever planejamentos; sofrer; gozar.
Desejo a todos um bom natal, da forma que for possível ser feliz. E se não puder novamente pontuar, um bom ano de 2007 também.
Não tenho aproveitado os primeiros dias das férias para pôr a programação de cinema em dia, como gostaria. Consegui apenas ver O céu de Suely, do diretor Karim Ainouz, consagrado já na estréia com Madame Satã.
O Céu ... tem caracteristicas tipicas do diretor: cenários sombrios da pobreza, da prostituição, do submundo. Dessa vez, ao invés da Lapa, do Rio, mostra Iguatu, uma cidade do interior do Ceará para onde volta Hermila, com um filho, vinda do Rio. Espera por Matheus, seu marido, que nunca vem e que lá pelas tantas já nem é mais localizado.
O cenário é submundo. O universo da história é feminino. A mulher entre a pobreza, a sobrevivência de qualquer forma, as possibilidades "fáceis" como a prostituição. A idéia de sair pelo mundo, os conflitos com a família (só mulheres)...
Um bom filme sobre mulheres e sobre brasilidade.
terça-feira, dezembro 19, 2006
Segurança Pública: o novo secretário e as velhas idéias
Depois de uma procura árdua, a governadora eleita do RS, Yeda Crusius encontrou um nome para responder pela conturbada área da segurança pública: trata-se do deputado federal Ênio Bacci (PDT). Antes de chegar a esse nome, pela falta de outros, a tucana tentou ter como secretários pelo menos o também pedetista Vieira da Cunha e o pefelista Moroni Torgan, pefelista radicado há mais de vinte anos no Ceará.
As credenciais de ambos realmente eram maiores: o promotor licenciado Vieira da Cunha se notabilizou nos últimos anos como o Torquemada dos Pampas. Ganhou amplos espaços em sua fúria inquisitória de relator, em 2001, da CPI da Segurança Pública da Assembléia Legislativa, num momento em que a oposição jogou grande peso, sem muito critério, no sentido de derrotar o governo do petista Olívio Dutra, a partir das dificuldades enfrentadas na área do combate ao crime. Apesar de aparentemente ser o portador da verdade na área, faltou coragem, mais uma vez - já tinha sido convidado por Germano Rigotto, em 2003, para assumir a pasta - para colocar em prática suas tão vigorosas idéias acerca do tema. Já o pefelista Torgan foi um parlamentar atuante em CPIs que trataram de crime organizado e outras questões ligadas à violência, além de ser delegado da Polícia Federal. Esse não quis abrir mão de sua trajetória no Ceará para voltar ao seu estado natal em tarefa tão inglória. Assim, restou a Yeda aceitar a indicação do PDT de um nome de menor peso, o discreto Bacci.
Bacci é discreto em sua trajetória e desempenho eleitoral. Nunca foi um campeão de votos, sempre compondo um médio escalão do PDT estadual. Reeleito para o quarto mandato na Câmara Federal, recém na última legislatura Bacci deixou de ser um deputado do Vale do Taquari para se tornar uma figura de alguma referência, ao presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Os jornais dão conta de que vem estudando muito acerca do tema segurança, reforçando assim sua formação como advogado criminalista que, por si só, não permite imaginar sucesso na direção da mais espinhosa das áreas da gestão do Estado, na atualidade.
Mas ao lermos a entrevista de Bacci na Zero Hora de 16 de dezembro, sábado último, é possível notar que se é discreto por trajetória, o novo secretário da Segurança Pública do RS tenta se cacifar na velha forma bravateira de lidar com a criminalidade, repetindo discurso de tons parecidos com o do seu antecessor José Otávio Germano (esse do PP):
?Eu fui claro com a Governadora em alguns pontos, principalmente no fato de que bandido tem de ser tratado como bandido (...)?
Questionado sobre o que significa isso, desdobrou: ?Muitas vezes o policial se sente acuado por ter receio de cumprir a lei em função de dificuldades que enfrenta com sua chefia e muitas vezes ele se sente desmotivado para sair à rua. Queremos dar a esse policial a tranqüilidade para que aja com rigor?.
Antes disso, ainda havia falado de sua proposta de ?motivação psicológica? aos policiais, dizendo que instituirá algum tipo de promoção por ?ações de bravura? nas ações de rua de policiais, por ?combate no dia-a-dia ao crime organizado?.
A grandiloqüência repressiva do pedetista não chega a ser novidade. Quando empossado secretário da segurança, em 2003, José Otávio Germano disse que acabava ali o período da ?polícia com freio de mão puxado no combate à bandidagem?, forma como ele caracterizava a gestão de seu antecessor José Paulo Bisol. O que se viu durante sua gestão foi uma policia muito violenta no trato com os movimentos sociais (matando sindicalista por sufocamento, no episódio mais grave, em 2005), contra as sociais dos estádios de futebol (ferindo dezenas de pessoas em diversos episódios estúpidos, cujos maiores responsáveis foram os policiais militares, em ações que chocaram o Estado, antes de serem esquecidas) ou contra pequenos assaltantes, especialmente os desarmados (vivi como testemunha ocular um episódio em que a Estação Farrapos da Trensurb foi cercada por cinco viaturas e ao menos duas dezenas de brigadianos para prender um sujeito que supostamente teria tentado assaltar um ônibus da Carris: o sujeito, pobre e sem portar sequer uma faca, era chutado no chão, já algemado). Se aumentou a violência policial, não se pode, infelizmente, dizer o inverso da violência por parte da ?criminalidade?: os índices de criminalidade registrados durante o quadriênio de Rigotto e Germano não mostra evolução em relação ao período de Olivio e Bisol.
A retórica repetitiva das autoridades dessa área é copiada por Bacci. O discurso de ?tratar bandido como bandido? é de uma incapacidade teórica para propor qualquer questão que faz corar qualquer acadêmico racional. Não traz qualquer novidade: é o velho e carcomido discurso da ?lei e da ordem? que, mesmo sendo a opção dos gestores da área há décadas no Brasil, não tem servido para outra coisa que não aumentar os índices de criminalidade. A dura gestão de Geraldo Alckmin em São Paulo é de algum modo a principal responsável pelo tamanho que o PCC acabou tomando na última década, como contraveneno à violência praticada pela polícia e pelo controle carcerário naquele estado.
Mais: a idéia de ?tratar bandido como bandido?, se é vazia em conteúdo, infelizmente traduz uma prática que fica clara nas ?entrelinhas? do discurso de Bacci: as soluções passam por mais repressão, mais dureza. Na mesma entrevista, o futuro secretário termina defendendo a prisão perpétua para crimes hediondos e ?a discussão? sobre a reforma da idade penal, ao menos para os mesmos crimes. Vai na contramão da acumulação que a humanidade tem feito, ao menos desde o Iluminismo de forma mais fundamentada, no sentido de garantir à população - sem distinção entre ?cidadão de bem? e ?cidadão do mal?, como se fosse possível fazer uma distinção entre essas figuras - , direitos elementares de presunção da inocência, devido processo legal, individualização das penas, dentre outras garantias que não servem apenas, como gostam de dizer alguns energúmenos de tendência fascista, ?para defender bandido? mas exatamente para garantir a todas as pessoas, boas ou ruins, contra o arbítrio da violência estatal. Mesmo na mais evoluída das sociedades jamais conseguirá a humanidade impedir que ocorram atos de violência. Não é por isso que o Estado deva agir como bandido também, como se fosse essa a resposta possível para combater o crime.
Lamentavelmente o novo secretário de segurança pública do RS nem assumiu e já mostra a que veio: não pretende ser um gestor inovador de alternativas civilizatórias na área de combate à violência, quer ser apenas mais um xerife, um Clint Eastwood versão gaudéria.
quinta-feira, dezembro 14, 2006
O tempo que passa, os tiranos que morrem
Augusto Pinochet morreu domingo, 10 de dezembro. O ex-ditador chileno talvez seja o ícone do que há de mais nojento da segunda metade do século XX. Em 1973, se utilizou da condição de comandante do exército, nomeado pelo presidente Salvador Allende, para articular um golpe de estado que não matou apenas o presidente eleito pelo povo, mas mais de 3 mil pessoas, além de torturar outros tantos milhares.
A ditadura chilena foi não apenas fisicamente brutal. Pinochet matou a poesia. Victor Jara, cantor, foi brutalmente torturado, teve as mãos amputadas antes de ser morto, dois dias depois. Agonizou num estádio, com outros companheiros. Pablo Neruda também foi desaparecido nesse mesmo processo. Mataram os sonhos de um povo, mataram a poesia de um povo.
A ditadura chilena foi economicamente brutal. Ao terminar um regime que poderia ser rotulado como reformista radical, os militates chilenos passaram a implementar um programa ultra-liberal, de retirada do Estado da economia, servindo como esteio do chamado neoliberalismo, que anos mais tarde destruiria o Estado brasileiro, argentino, dentre outros paises latinos.
Pinochet é a cada de um tempo. Dos militares golpistas, apoiados pela CIA no golpe, pelo FMI no programa econômico. Representa exatamente o tempo em que o Estado era fundamentalmente estruturado com uma visão policial, reprimindo todo o tipo de organização política para permitir, assim, a implementação de um programa econômico concentrador de renda, privatizador, de abertura econômica extremada. Por isso Pinochet, mesmo tão carniceiro, sempre teve a benevolência do capitalismo central, sendo até idolatrado por adeptos do liberalismo econômico como sendo um homem que foi pragmático, em que todas as mortes de que é tributário são apenas um custo necessário para atingir um objetivo importante. O cinismo corre solto.
Morreu um dos últimos ditadores. O último milico brasileiro que foi presidente morreu há alguns anos esquecido, o gen. Figueiredo. Uma figura, antes de mais nada, patética. O milico que disse que preferia o cheiro de seus cavalos ao cheiro do povo. O Brasil parece ter de algum modo saído de sua ditadura de forma mais suave. O povo chileno ainda vive profundamente dividido acerca da figura do seu ditador recém cremado. Multidões se enfrentam nas praças em nome dessa disputa: foi ele um tirano ou foi ele um homem correto? Nossa pacificação, no entanto, é um pouco falsa, como toda a nossa cordialidade. Todos os dias se pode ouvir gente ignorante ou mal-intencionada a defender ?a volta dos militares? como uma volta a tempos dourados. Como se fosse razoável viver num regime que mata de forma organizada. Como se a nossa corrupção e impunidade não tivesse prosperado de forma excelente no regime militar, sem o freio positivo que a liberdade de denúncia permite. Hoje há corrupção como havia ontem. Mas hoje aparece. A Polícia Federal hoje funciona inclusive para combater a corrupção, enquanto antes havia apenas como polícia política. Grande parte da falta de participação do povo, essa submissão à política, é herança maldita de tantas décadas de repressão. Uma geração como a minha, que não viveu o drama da tortura, de ter amigos desaparecidos, começa a falar bobagem e achar que ?ditadura não é tão ruim assim?, que ?direitos humanos é coisa pra defender bandido?.
Talvez falte, portanto, para o Brasil, tratar também de suas feridas, assim, em praça pública, como fazem os chilenos.
terça-feira, novembro 21, 2006
Anorexia e obesidade podem ter a mesma origem?
Há algum tempo, com as transformações de alguns posicionamentos meus, evito apenas repetir chavões. Mas como continuo marxista, não posso deixar de olhar as coisas sob um olhar tal. E identificar complexidades onde parece que não há ou onde há mas elas estão escondidas.
Assim, vi alguém comentar a respeito das duas mortes de meninas-lindas-e-magras-que-queriam-fazer-sucesso-sendo-sempre-mais-magras que haviam dois fenômenos completamente diversos na juventude que mereciam igual atenção: a anorexia/bulimia e a obesidade, que talvez não estivessem tão distantes. E é real, hein!
Por que?
Ora, por causa do "tal do capitalismo".
Sim, por isso que eu fiz aquela introdução. Sempre que se joga a responsabilidade dos fenômenos pro capitalismo, parece papo de trosko chato, mas não... isso é marxismo, fazer o que...
Vivemos em uma sociedade movida pelo dinheiro, certo? E uma sociedade que valoriza muito o consumo, certo? E que valoriza MUITO o corpo, a forma física, a beleza-padrão. Através do corpo e da beleza se pode chegar ao dinheiro. De algum modo através do dinheiro se pode chegar à forma física e à beleza, porque não... Boas roupas, tratamentos, cabeleireiro bom, academia, tudo isso ajuda. Assim, somos instigados permanentemente a essa loucura de ter grana pra ser belo, ser belo pra ter grana. Ter grana pra comer gente, comer gente pra ter grana. Um vai-e-volta louco, em torno disso.
Por isso que centenas ou milhares de meninas - mais as meninas, parece - NÃO COMEM no mundo de hoje: para serem "belas", para serem desejadas por todos. E por isso que meninas e meninos vivem horas por dias em academias, desde novinhos: para terem um corpo sarado, para serem tesudos. Para muitos vezes ficarem completamente sem graças, de tão inchados que ficam. Por isso muitos tomam remédios para emagrecer ou para inchar músculos. Uma tristeza. O mundo não fica mais bonito e fica muito mais sem-graça em razão desse comportamento. Contribui imensamente para as gerações atuais serem burras e paranóicas em busca apenas da beleza e do corpo, como se isso resolvesse tudo.
É isso que há anos mata, mas agora parece já criar um choque. São muitas histórias que começam a aparecer de meninas que não conseguem ingerir um alimento sem vomitar, tudo em nome de serem supostamente belas. E quem disse que só é bela quem tem 40 kg?
E nesse sentido, a obesidade não deixa de ser outro lado da mesma moeda: a pressão por consumir as coisas da moda faz uma outra parcela da juventude em todo o mundo comer merda disfarçada de hamburguer, até explodir. Nos EUA, há um recorde de obesidade mórbida. Pessoas que comem por pressão, por tensão, por vários motivos, tudo por força do "sistema", que as força a comportamentos compulsivos, seja de comer, seja de malhar, seja de vomitar para não engordar.
Que mundo triste esse. Pobre de nós, que somos jovens!
Sim, eu tenho 28. Sou jovem... mesmo que o mesmo sistema de valores diga que não...
Uma volta...
Lamento não estar escrevendo por aqui. Mas a falta de tempo e energia anda grande: época de provas, desmotivação por diversas fontes, etc... Mas lamento mesmo! Pretendo retomar ou nesse ou em outro formato...
terça-feira, novembro 07, 2006
Os exageros de quem decide a pauta
Nossa imprensa e o debate político são geralmente distorcidos em razão de quem "pauta a pauta" são uma pequenina minoria da população, o que se costuma chamar de "formadores de opinião". Grosso modo, as preocupações mais centrais da imprensa passam por assuntos que interessam exclusivamente à classe média: o medo da violência, o preço alto da gasolina, para ficar em alguns exemplos. O jornalista Paulo Santana, um dos mais lidos e ouvidos pelos gaúchos, é um pouco assim. Ao menos cinco colunas por mês dele são dedicadas a tratar do preço da gasolina. Ora bolas, combinem aqui, é um assunto que interessa a 10% da população, diretamente. Claro que o preço dos combustíveis tem efeito cascata em cargas, preço de produtos, preço da passagem, tudo isso. Mas distorções no preço do combustível na bomba do posto é um assunto que, por mais importante seja, interessa a quem tem carro. Minoria, portanto. Os engarrafamentos e falta de vias mais largas são um problema de quem tem carro, também. Mas são tratados como problema universal. Já os velhos amontoados nos coletivos lotados não tem tratamento nunca, de ninguém na "grande imprensa" ou o foco de uma expressiva parte dos mandatários do país.
Na semana passada, mais uma dessas pautas "esquentadas" pela minoria: o caos dos aeroportos. Óbvio que deve ser profundamente desagradável a uma pessoa ter que passar pelos sofrimentos que passaram aqueles que tiveram que viajar na semana passada e muitas vezes viraram a noite esperando pra ter o vôo cancelado. Evidente que isso tem efeito cascata no transporte de cargas, no desenvolvimento do país, no turismo, no caralho-a-quatro. Mas é um assunto para ter tanta manchete de jornal, capa, cinco, seis páginas por dia durante uma semana?
Mais: o ex-senador Paulo Brossard, um porta-voz do que há de mais reacionário no RS, chegou ao desplante ontem de comparar o colapso do transporte aéreo com o quase-apagão do sistema elétrico que vivemos há cinco anos, como se o primeiro fosse um problema verdadeiro e mais grave. Ora bolas, Dr Brossard! Menos... O Sr deve ter gerador na sua fazenda, por isso fala uma merda dessas!
Outra ida à Feira
Domingo fui novamente à Feira do Livro. Dessa vez para a sessão de autógrafos do Charles Kiefer, que não só é um dos escritores que leio desde pequeno, como se tornou uma figura muito querida pra mim, depois de ter feito um ano e meio de sua Oficina Literária. Kiefer que mudou de editora e está tendo boa parte de sua obra relançada, agora, em caprichadas produções da Record. Merecido.
Eu comprei e levei o autógrafo de Logo tu repousarás também, um livro inédito de contos lançado esse ano. Mais um livro pra pilha das férias.
terça-feira, outubro 31, 2006
O paraíso do leitor
Iniciou na sexta-feira passada, plena véspera eleitoral, a 52ª Feira do Livro de Porto Alegre. Esta Feira se caracteriza tanto pela já antiga tradição, que se espalhou em "Feiras do Livro" em todo o interior do Estado como por sua característica diferenciada de ser uma feira de livros que ocorre "a céu aberto", na praça mais central da cidade, a Da Alfândega, em meio ao povo, não num pavilhão isolado longe do centro, cobrando ingressos caros. Não, a Feira do Livro de Porto Alegre ocorre em meio à circulação do povo todo que trabalha no centro, dos mendigos, michês e prostitutas que de algum modo seguem por ali mesmo nessa época. E isso é positivo, independente do que pensa o "cidadão de bem", sempre vigilante, sempre querendo se isolar em seus eventos na sede da Fiergs.
Sábado estive na 52ª Feira do Livro. Havia uma sessão de autógrafos do João Gilberto Noll, que está lançando seu novo livro, de contos, chamado Máquina de Ser. Antes disso, houve uma conversa de Noll com cerca de umas vinte pessoas, eu entre elas, em que ele falou de sua obra, suas influências, inspirações, perturbações, tudo o que o move à escrita. Excelente conversa. Coisas que só uma Feira do Livro para permitir, só uma cidade diversa e intensa como Porto Alegre para, tão pequena, oferecer tantas oportunidades.
quinta-feira, outubro 19, 2006
O episódio do sequestro do embaixador estadunidense Charles Ulbrick e a sua troca por um grupo de 15 prisioneiros políticos que a ditadura militar foi obrigada a libertar com vida em solo mexicano foi um dos lances mais espetaculares do cinzento período do regime opressivo brasileiro.
O jornalista Flávio Tavares - hoje colaborador de Zero Hora - foi um dos libertados nesse episódio. Junto com ele estavam, entre outros o polêmico "comandante" Zé Dirceu, o ex-deputado Wladimir Palmeira, dentre outros.
Centrado nesse episódio, mas narrando as demais experiências vividas durante o período da ditadura, Tavares nos oferece uma leitura fortíssima, pra bem e pra mal. De texto magistralmente escrito, com frases que merecem destaque pela beleza, em diversos momentos do texto, como a boa literatura manda fazer, ao mesmo tempo nos sentimos violentados ao viver a violência que o autor sofreu nos porões do regime ditatorial brasileiro ou, depois, sequestrado pelos paramilitares uruguaios.
Esse Memórias do Esquecimento é certamente um dos melhores livros escritos sobre o período, dentre a farta literatura disponivel.
Uma coisa "Pinochet"
Pela primeira vez desde que publicou "Introdução à crítica do Direito do Trabalho, em 1978, ano em que nasci, Tarso Genro voltou a falar algo correto: a frase de ontem de Alckmin mostrou o lado Pinochet do candidato do PSDB, uma coisa meio Pinochet com Opus Dei.
[Óooobvio que usei uma figura de linguagem. Não concordo com quase nada do que Tarso Genro diz ou fala, mas ele é um sujeito brilhante, sem dúvida. Faço essa nota porque tenho sido mal interpretado em TUDO o que escrevo, sempre há alguém que não entende. Vou começar a explicar piadas, a partir de agora.]
Alckmin disse ontem que se Lula for reeleito, seu segundo mandato terminará antes de começar. Tal declaração vem no sentido do clima de terror que a oposição resolveu estabelecer a partir dessa semana para a reta final. Depois da ida ao segundo turno - que foi uma vitória política brutal de Alckmin, mais que do PSDB, até -, chegou a parecer que a vitória de Lula estava ameaçada. Mas quando se pára para ouvir um candidato, muitas vezes seu pretenso-eleitor acaba mudando de opinião, voltando atrás. Além disso, com a exposição de mídia que um candidato tem, ele fica visado pelos adversários e seus pontos vulneráveis geralmente aparecem. No caso do Picolé de Chuchu, é o caso: a visibilidade da ida para o 2° turno faz com que ele agora perca muitos votos de gente que nele votou para evitar a vitória de Lula em primeira instância e que agora acabará votando na reeleição para evitar o mal maior, que seria a vitória dos tucanos.
O PSDB, junto com o PFL, representam no atual cenário nacional uma coisa tipo assim Partido Republicano dos EUA: são conservadores na moral, elitistas na prática cotidiana e liberais na economia. Redução de impostos para as classes altas, recrudescimento do Estado policial, com suspensão de direitos individuais e, especialmente com Alckmin, ligado ao setor mais duro do catolicismo, um endurecimento das relações Estado-religião. Bush, nos EUA, só repassa dinheiro público para escolas e programas de saúde que trabalhem a abstinência sexual. O que significa não distribuir camisinha, por exemplo. Alckmin, que pelo jeito não trepa, poderia fazer algo similar, não duvido nada.
Na área penal, controle da criminalidade, Alckmin é claro ao dizer que devem ser suspensas garantias constitucionais em nome do combate ao crime. Ele acha que o judiciário e os advogados "atrapalham" ao intervir em todas as etapas da repressão penal. Imaginem onde vamos parar assim, meus caros...
O lado Pinochet
Mas voltando ao tema do post: a idéia da oposição de direita na última semana foi retomar uma linha de que se Lula for reeleito, deve se buscar sua deposição pela lei ou mesmo fora dela. Golpismo puro.
Em razão dos escândalos diversos, crimes os mais diversos, inclusive eleitorais, Lula de fato pode ter de responder. Mas uma visão fria da lei penal ou eleitoral dificilmente conseguiria incriminar Lula, dado que não existe, no Direito Penal em especial, a chamada responsabilidade objetiva: alguém só é punido por crime que diretamente contribuiu para a execução ou elaboração. Para isso são necessárias provas claras, não suposições, como as que envolvem Lula. Todos nós supomos que ele saberia do que a direção do seu partido fazia. Mas dai a provar, objetivamente, são "outros 500". Logo, friamente analisando, Lula escaparia de qualquer julgamento sério, jurídico que fosse feito, já no primeiro despacho de um ministro relator do caso, no Supremo. Não apenas porque ele nomeou a maioria do Supremo, mas porque o bom direito assim o exige.
Mesmo assim, a oposição de direita trabalha nessa linha, especialmente disseminando o terror: "se vocês elegerem o Lula, vamos caçar ele, de qualquer maneira". O mega-humorista Olavo de Carvalho chegou a escrever esses tempos que não entendia porque a direita se restringia ao "combate eleitoral" a Lula, que devia partir para "outros meios". Talvez estejam levando o OdeC a sério, o que seria um grave erro.
Assim, ao não admitir a reeleição de Lula, anunciando que intentará formas outras para impedir que Lula assuma, Alckmin de algum modo faz lembrar Lacerda, a respeito de JK, quando este se lançou candidato: "Juscelino não deve ser candidato; em sendo, não deve ser eleito; em sendo eleito, não deve ser empossado; em sendo empossado, não deve completar o mandato".
Infelizmente, nosso país ainda carece de lideranças sérias. Infelizmente aí incluo o próprio Lula, em quem já votei outras tantas vezes. Aí incluo a minha opção nesse primeiro turno. Enfim, poucos, raros são os que escapam da lógica de que fazer política e lidar com o povo exige fanfarronice, bravata e mentiras. Ainda assim, quero dizer que sou otimista...
terça-feira, outubro 17, 2006
Crise do blog
Sim, eu deletei um post anterior chamado "Notas eleitorais - I", porque lá eu tecia opiniões que podem ser mal interpretadas, como já o foi um texto que escrevi e fiz circular. Sempre achei ruim as pessoas não saberem diferenciar opinião de conteúdo de questiúnculas pessoais. E sempre detestei a opção mais fácil pela patrulha do que pelo debate. Por essas coisas que a esquerda não melhora a vida...
Cada vez mais, se eu for me pautar por esses desagrados, vou escrever menos. É mais fácil mesmo você ficar na teoria, virar um acadêmico. Podem haver vaidades e intrigas na academia, mas ao menos elas não estão cercadas de discursos fantasiosos sobre outros valores, sonhos e revoluções.
Tou de saco cheio. Mesmo!
segunda-feira, outubro 09, 2006
E ontem fui ao cinema novamente. Dessa vez para ver O Maior Amor do Mundo, do Cacá Diegues.
Diegues tem feito o tipo de cinema bem produzido, voltado ao grande público, com elenco global, ritmo global, tudo global, de tal forma que é produzido pela Globo Filmes.
No elenco desse filme, José Wilker encabeça, tendo Isabel Fillards, Débora Evelyn, Marco Ricca e Sérgio Britto, dentre outros.
O filme não é tão bom quanto os comentários geralmente positivos da crítica têm feito crer. É um filme bem produzido, com bom elenco, cenários, direção, etc. Mas tem um roteiro confuso, que embaralha muitas situações distintas, fazendo do filme uma verdadeira salada de frutas. Além disso, cria contrastes que o tornam muito irreal. A ida do personagem central pra Baixada Fluminense o faz encontrar suburbanos estereotipados demais, situações de videoclipe, uma coisa "Cidade de Deus exagerada". Assim, o filme tenta ser bem intencionado, mas acaba resvalando pro clichê, como toda boa novela da Globo.
Assim, O Maior Amor do Mundo apanha de longe na capacidade de explorar o tema "morte iminente" que O Tempo Que Resta (abaixo comentado, recém visto) também explora, com muito maior consciência, até porque o personagem do outro filme, por mais que entre em parafuso, parece ter um foco para "resolver" sua situação. Considerando-se o desafio do tema a enfrentar, parece que o filme brasileiro é muito mais pretensioso, quer ser um "grande filme", sem consegui-lo. O filme francês citado consegue, sem tanta audácia, enfrentar o enredo com muito maior tranquilidade e qualidade.
E olha que eu, pra dar pau em filme brasileiro, reluto. Mas O Maior Amor... tem ares de grande filme mas não consegue ir muito além dum "caso especial" que poderia passar numa terça-feira qualquer, depois do Casseta & Planeta.
Dália Negra nos dá vários motivos para ser visto.
Brian de Palma incursionando pelo gênero noir. Os protagonistas Scarlett Johansson e Josh Hartnett são, a meu ver, os dois atores mais tesudos do cinema atual, não necessariamente nessa ordem. Além de bons atores, mesmo. Hilary Swank sempre torna um filme interessante. Além desses motivos, trata-se da adaptação de um clássico de James Ellroy, constituindo-se num filme bastante aguardado.
Mas o que se pode ver com o desenrolar da película é que as motivaçõs mais fútil-sexuais até serão bem preenchidas. Josh, Scarlett e Hilary aparecerão de forma privilegiada ao longo do filme, deixando qualquer espectador viajando na maionese. Mas o filme, no que deveria ser central, é confuso, exagerado, cansativo, desgastante. Não a ponto de irritar, ser ruim. Mas não passa do médio, nada que mereça comparação com os grandes clássicos do gênero noir. Pode-se dizer apenas que, diante de uma temporada ruim, é um dos filmes que "dá pra assistir".
sexta-feira, outubro 06, 2006
Assim que recebi, início da semana, sabendo que nesse mês vou ter mais "margem de manobra" com meu dinheiro, resolvi comprar o CD Segundo, da Maria Rita, que foi lançado no ano passado mas ainda não conseguira comprar e nem ouvir inteiro. Dei a sorte de entrar nas Lojas Americanas e pegar ainda em promoção: R$ 14,90, com o DVD de bastidores junto.
Maria Rita é du caralho! Dizer mais exigiria tempo e obviedades. Ela tá excelente, mais uma vez.
Notas eleitorais - II
Desde o ano passado, quando começou a se falar em sua candidatura, eu disse para todo mundo com quem falava sobre que Yeda Crusius (PSDB) seria a eleita para o Governo do RS. Pelo menos desde março venho dizendo aos meus amigos petistas que a campanha de Olívio devia cuidar da Yeda, ao invés de ficar apenas no trabalho implacável - e justo - de desconstituição do frágil governo de Germano Rigotto (PMDB). Claro que antes mesmo de ter pesquisas, depois de ter pesquisas, sempre fui tirado para louco. "Não! A eleição vai ser disputa entre Rigotto e Olívio", me diziam, só faltando passar a mão na cabeça. Devo admitir, no entanto, que durante o mês de setembro tinha passado a não acreditar mais na minha "profecia" já que a campanha de Yeda, depois de um crescimento razoável, sofreu uma brutal crise, em que o marqueteiro Chico Santa Rita chegou a dar entrevistas nos jornais recomendando que não votassem nela, porque quem não cumpria a palavra não merecia ser eleita. Pois Yeda passou e em primeiro lugar! Olívio e Rigotto disputaram voto a voto e, por menos de vinte mil votos, o candidato do PT superou o governador atual do PMDB. Surpresa total, menos pra mim!
Yeda representa setores que tem representatividade na sociedade gaúcha. De certo modo, as mesmas forças que estavam no comando do Estado durante o governo de Antônio Britto (95-98), o mais impiedoso dos governantes que o RS teve desde a abertura política na década de 80. Britto vendeu estatais, sua polícia sentou o cacete nos movimentos populares, foi um exemplo de como as elites econômicas pensam o Estado.
Com a derrota de Britto para Olívio em 98, esses setores pararam pra pensar em como retomar o poder. E passaram por um processo de reformulação de sua tática que os levou a criar dezenas de ONGs e movimentos sociais para dialogar com a classe média do Estado, setor onde o PT havia construido muito da sua força. A idéia era retornar ao Governo com Britto, em 2002. No entanto, com a rejeição a Britto maior que o antipetismo, esses setores foram obrigados a se refugiar na candidatura insossa de Rigotto, que acabou ganhando do PT, num fenômeno eleitoral impressionante. Dos 3% no início da campanha, Rigotto terminou o 1º turno com 45%.
Esses setores se abrigaram na vitória do PMDB, mas não governaram. Aliás, ninguém governou... E agora, com a crise do PMDB e com a rejeição ao PT (tanto pela polarização antiga no Estado quanto pelo acrescimo dos desgastes nacionais), a candidatura de Yeda foi ocupando um espaço aberto ("não existe vácuo na política", me ensinaram certa vez) e se credencia para vencer. Com ela, estarão governando o PSDB, o PFL, os grandes empresários, os grandes industriais, os ruralistas e tudo de ruim que possa haver no Estado.
Sim, Yeda é uma novidade vencida, de tão antiga. Votar nela é referendar a volta das barbaridades de Britto e os seus.
terça-feira, setembro 26, 2006
Publicação
Há duas semanas havia terminado um texto a respeito da proposta do Presidente Lula de realização de uma "constituinte parcial" para fazer a chamada "reforma política". Mesmo não sendo um especialista em textos mais academicos, sempre tendo escrito coisas mais voltadas a outros tipos de linguagem, ficou bem razoável. Hoje tive a felicidade de receber retorno do site Jus Navigandi, que incluiu meu texto na sua nova edição. Para maior orgulho do dono desse blog, a edição é encabeçada por Luiz Guilherme Marinoni, um dos juristas mais importantes da atualidade e, particularmente, uma das referências desse que vos escrever.
Serve de motivação pra produzir outros e outros...
Quem se interessar em conhecer o texto, aí vai o endereço do artigo:
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8974
segunda-feira, setembro 25, 2006
No sábado fui ver O tempo que resta, filme francês dirigido por François Ozon.
O argumento não é nada original: homem descobre cancer no generalizado e, em razão disso, terá uns tres meses de vida. a partir dai, surgem os desafios de como encarar essa situação. Primeiro que Romain resolve evitar o sofrimento da quimioterapia. Depois, ele vai tratando com uma sinceridade absoluta suas relações e, de certo modo, vai removendo de perto todas as pessoas, numa triste constatação da solidão que vive. Desde uma relação franca mas conturbada com os pais e irmã até uma relação que ele constata não acrescentar muito com o namorado, o jovem bonito mas vazio que mora com ele.
Apesar de evidentemente triste, o filme tem toques de beleza impressionante. É um drama, faz pensar, é impactante, mexe com qualquer pessoa sensível. Mas foge ao melodrama. E mesmo fazendo pensar, como todo filme europeu que se preze, ele em nenhum momento cai na tentação de ser um tratado ou ensaio: ele deixa ao espectador entender e buscar as reflexões que o filme permite. Logo, é um filme francês sem carregar nos diálogos e discursos, erro que muitas vezes o cinema desse país tende a cair.
É um dos bosn filmes em cartaz, na atualidade.
terça-feira, setembro 19, 2006
Alimento aos céticos...
Há muitos assuntos para falar. Mas como ando dando pouca atenção a esse blog - na verdade penso em fazer outro, por cansaço desse espaço em que não se comenta, não se frequenta, nada disso... - eu acabo passando, sem comentar nada. Também porque minhas opiniões céticas desagradariam aos poucos que o lêem. Como, aliás, desagradam aos meus interlocutores - geralmente meus melhores amigos e geralmente petistas, como eu fui até bem pouco -, por serem um tanto quanto pessimistas em relação ao presente e futuro da nossa política.
O episódio ocorrido no final de semana, sobre o chamado "Dossiê Cuiabá" só vem para demonstrar de forma ainda mais clara o que tem sido a nossa política, através dos dois principais grupos que disputam os postos de poder, o PT e o PSDB.
Um grupo de pessoas - um, inclusive, assessor especial da Presidência - providenciavam dinheiro no sentido de pagar à família Vedoin pela divulgação de um dossiê com elementos que envolveriam o ex-ministro da Saúde José Serra (PSDB, durante os dois governos de Fernando Henrique), que é favorito para vencer as eleições ao governo de SP, com a máfia das ambulâncias (ou máfia das sanguessugas).
Serra foi ministro da Saúde durante 6 anos. A possibilidade de que tenha envolvimento com os esquemas de fraudes nas compras de ambulâncias é grande. Se tal fato for verdadeiro, tomara que apareça e logo, de forma que o povo de São Paulo possa tomar conhecimento de quem está querendo eleger governador, se é que já não o conhece.
Por outro lado, é mais um episódio em que pessoas ligadas à direçãodo PT são flagradas movimentando dinheiro, girando grana com gente pouco séria (como, no caso, os Vedoin Sanguessugas) e operando negócios pouco "republicanos", pra dizer o mínimo. Assim, às vésperas de uma eleição geral, a política brasileira segue cheirando mal. Os dois grupos com viabilidade eleitoral, através das candidaturas de Lula e RefriGeraldo estão profundamente envolvidos em um episódio que é apenas mais um num grande escândalo de corrupção e fraudes na área da saúde, com dezenas de envolvidos em vários poderes, governos e partidos. O que pensar de tudo? Como dialogar com as pessoas e dizer que elas estão erradas quando dizem que "é tudo igual"?
Eu sempre acreditei na política como a forma de mudar o país e mesmo o mundo. Mas... hoje estou cético. As alternativas aos dois grupos citados são frágeis, seja em força social efetiva, seja em conteúdo. Eu votarei em Heloísa, mas confesso estar "de saco cheio" de suas frases feitas.
Há que ter consciência pra acreditar em algo. Ou será que tendo consciência, daí mesmo é que caimos num ceticiscmo quase cínico?
quinta-feira, setembro 14, 2006
A morte do Coronel e a eventual vingança
No final de semana foi morto com um tiro o Cel Ubiratan, deputado estadual, candidato a reeleição pelo PTB, sob o número 14111.
Cel Ubiratan ficou conhecido do grande público quando comandou a operação da PM que, com o objetivo de sufocar uma rebelião no pavilhão 9 do Carandiru, acabou matando 111 presos, em setembro de 1992.
O Cel foi a julgamento por duas vezes em razão dos crimes cometidos durante a referida operação. Foi condenado pelo juri popular a mais de 600 anos. Em novo julgamento no ano passado, pelo pleno do Tribunal de Justiça de SP, em razão do foro privilegiado adquirido por ser deputado, o Coronel foi absolvido.
Agora, ele morre com um tiro, em seu apartamento. Todos, do delegado responsável ao Governador, fazem questão de atribuir à namorada dele o crime, como sendo uma explosão por questões de ciúme. A outra hipótese plausível seria de uma demonstração de força e vingança do PCC. O que torna essa segunda hipótese menos provável é que a organização de criminosos teria assumido o crime. Mais que isso, uma vingança desse tipo seria provavelmente efetuada com maior brutalidade e mesmo com um componente de espetáculo, o que não foi o caso.
Mas e se fosse vingança?
Se fosse vingança, Ubiratan teria sido vítima daquilo que ele sempre pregou. Daquilo em que acreditam as pessoas que se prestam a idolatrar um bandido como ele: que a vingança deve prevalecer em relação aos pactos civilizatórios, que passam pela idéia de que a sociedade e o Estado devem ter instrumentos de repressão e controle da violência.
Há duas formas possíveis de controle da violência e eventual punição. Uma é essa: através dos instrumentos formais do Estado, se previnem e apuram crimes. Daí, eventuais punições são efetuadas, sempre pelas vias formais, com garantias de direitos, ritos formais que garantem a igualdade das partes, defesa, contraditório. Isso implica alguns erros, uma certa lentidão. Significa uma sociedade mais tolerante. A outra maneira é a de quem abomina direitos humanos, de quem odeia que as pessoas tenham direitos, a bem da verdade: errou, tem que pagar e logo! São os que acham que linchamento é uma coisa legítima, defendem pena de morte, redução da maioridade penal pra começar a trancafiar negros e pobres desde os 12 anos, jogando nesse sistema prisional imundo que temos. Esse segundo time é do de Ubiratan, Enéas Mônica Leal e os seus. O meu lado é o primeiro, já que as conquistas advindas das teorias iluministas, nessa área, são o que de mais avançado a humanidade acumulou até aqui. Aliás, acumulou teoricamente. Ainda nem implementou, de verdade. Idéias dia a dia combatidas. Idéias amplamente minoritárias no mundo atual.
Ubiratan era deputado, caminhando para o terceiro mandato. Era aplaudido e bem votado. Defendia rigor penal, redução da maioridade penal, defendia ação policial dura. Seu número - 14111 - fazia alusão tétrica ao massacre do Carandiru, um recado nada sutil aos seus eleitores, para votarem nele como se tivessem linchando um favelado. E as pessoas iam lá e votavam nele, ajudando a construir um mundo de linchadores.
Eu sou contra a vingança. Logo, na minha lógica, o Coronel devia ter sido condenado pelas mortes de que foi responsável. Mas se alguém tiver ido lá e apagado ele pra vingar um que seja dos 111 presos mortos em setembro de 1992, terá, afinal, seguido o que o Cel pregava: a vingança, sem julgamento, sem tolerância.
Um mundo de combate, um mundo de todos contra todos, até que o último se mate...
sexta-feira, setembro 08, 2006
Brasilidade II
Dentro dessa discussão sobre identidade nacional, nada melhor do que falar sobre dois autores fundamentais na nossa literatura.
Para se entender muito da "fundação" do Brasil é necessário ler dois autores: Lima Barreto e Machado de Assis.
Ambos ilustram, por seus textos, períodos ricos da vida brasileira, através das relações sociais na cidade do Rio de Janeiro, capital política e econômica do Brasil até meados do século XX, quando perde para Brasília a primeira condição e para São Paulo a segunda. Assim, retratar os usos e costumes do Rio era retratar um pouco o Brasil.
Lima Barreto era um anarquista. Isso aparece de forma mais clara nas suas crônicas com opiniões fortes. Mas também está nos romances e contos, claramente mais engajados, no retrato cáustico que faz da primeira república brasileira (Lima morreu em 22). O romance Triste Fim de Policarpo Quaresma é o melhor de Lima: nele o protagonista empreende uma luta para que o Brasil adote o tupi-guarani como idioma oficial, como forma de reforçar a identidade nacional, contra o português que representava a herança colonial. No livro todo Barreto brinca com a questão da identidade nacional.
Já Machado de Assis é politicamenta mais ambíguo. Muitos estudos lhe atribuem uma postura passiva diante dos acontecimentos de seu tempo. Outros vêem nas entrelinhas de suas obras uma ácida crítica à elite brasileira e suas instituições. Vale lembrar que no período machadiano havia o mais brutal dos institutudos jurídicos que um país podia adotar, que foi a escravatura, só abolida no Brasil, formalmente, em 1888. Diferente de Lima Barreto, que denunciava claramente a situação dos pobres e especialmente dos negros no Brasil, Machado era de fato ambíguo. Nem por isso, suas obras deixam de ler fascinantes. Não apenas porque são grandes obras literárias, mas porque conseguem retratar o seu tempo. Os grandes acontecimentos do período monárquico estão presentes ali: a existência da escravidão, a Guerra do Paraguai, etc.
Há poucos dias terminei de ler Helena, um de seus romances. A narrativa não se atravessa de nenhum desse "grandes assuntos" nacionais da época, mas é um excelente texto, grande entre os grandes. E mostra muito dos costumes, do tipo de relações familiares da época, sobre a moral vigente.
Para quem quer ler Machado e perceber esse retrato de fatos políticos, recomendo a leitura de Memorial de Aires, seu derradeiro romance: a narrativa se passa antes e depois da abolição da escravatura e a proclamação da República. E a trama toda tem esses assuntos presentes, de como eles alteram a "vida real", a vida dos personagens, pessoas da média elite da época.
São formas de ver um pouco melhor sobre nossa identidade, essa que tantos acham que não é devidamente cultuada.
Talvez ler Machado de Assis e Lima Barreto - e disseminar sua leitura - valha mais para esse objetivo que qualquer parada militar burocrática e cheia de símbolos do país e mundo que não queremos.
Brasilidade
Eu tenho uma posição de que devemos saber equilibrar uma identidade local com o respeito a todos os povos. Nossa preocupação deve ser não apenas viver em um país bom, mas num mundo bom. Assim, todo o tipo de nacionalismo ou localismo exagerado é ruim. Nem por isso não devemos respeitar e cultuar um pouco do que nos faz ser um povo. Da mesma forma vale a relação Rio Grande x Brasil. Não me considero mais gaúcho que brasileiro, mas gosto de ser gaúcho, também. Em tudo é necessário tentar encontrar um equilíbrio entre ser soberano e ser universal.
Por isso me parece às vezes um pouco exagerada essa preocupação de "porque não se cultua mais o 7 de setembro?", que ontem habitava os canais de TV e, em especial, no rádio, meio de comunicação de que gosto mais e a bem da verdade busco mais informações, dado que o rádio pode ser ouvido no ônibus, no trem, na rua, até no trabalho... Além disso, a falta da imagem faz com que o texto do rádio seja muito mais (in)formativo.
Mas voltando ao 7 de setembro: devemos ter uma identidade nacional. Acho que ainda falta isso ao Brasil: saber construir melhor uma identidade nacional. Por outro lado, não acho que devamos lamentar porque "as crianças não cultuam mais os símbolos como faziam há trinta anos".
Há 30 anos o Brasil vivia numa ditadura militar. O "nacionalismo" brasileiro foi exacerbado durante duas cruéis ditaduras, primeiro a de Vargas (15 anos) e depois a militar (20 anos). Assim, a idéia de Pátria era vinculada diretamente a uma exaltação um tanto forçada. O muito de preocupação em construir uma identidade nacional foi feito durante a ditadura de Vargas, que é, de fato, um dos fundadores da "idéia de país" que temos hoje: a legislação, os primeiros esboços sistematizados de uma cultura com preocupação nacional. Assim, nunca esse sentimento de nacionalidade foi forjado pelo próprio povo, de forma autêntica, por suas experiencias e lutas "de baixo para cima".
Muito em razão disso, não há mais esse sentimento de "civismo" que muito têm saudade. Até porque a bem da verdade o "civismo" era um eufemismo para militarismo.
Talvez o correr dos anos possa fazer surgir o equilíbrio que seria desejável. Aí entra a necessidade de não termos tantos vampiros, sanguessugas, mensaleiros, dentre outros. Isso certamente atrapalha a idéia de "orgulho", que, em medidas controladas, é sempre bom.
quarta-feira, setembro 06, 2006
Está na minha rotina usar coletivos. Tanto o 608 - IAPI que me leva de casa ao centro, como o trem, que me leva e traz da Unisinos. Quando chego, ainda pego a linha T2 para, da estação da Trensurb, chegar em casa. São algo em torno de duas horas diárias, nos dias "completos", por assim dizer: quando tenho trabalho, quando tenho aula. Sem contar as viagens curtas do centro para o Fórum.
Com isso, posso comentar com alguma autoridade sobre o transporte coletivo. Dizem todos que o transporte coletivo de Porto Alegre é o melhor do país, ao menos entre as capital. Talvez realmente o seja. Já andei de ônibus em outras capitais e realmente achei ruim. Especialmente em São Paulo, era uma bateção de lata só. A Cia Carris, estatal municipal, é considerada a melhor empresa de transporte coletivo do país.
Mas apesar desse título, a população de Porto Alegre não deveria se sentir bem andando de busum. Tem piorado sensivelmente o atendimento dos coletivos. Com a passagem das roletas para a frente dos carros, coisa que se consolidou há uns quatro anos, os passageiros entram pela frente e saem pelo fundo. Só que os isentos (especialmente os idosos, maior parcela destes) não passam a roleta. Ou seja, ficam na frente do carro. Quando os bancos todos são ocupados, se aglomeram como se gado fossem. Além de estarem sendo mal-tratados, fecham a passagem para quem entra e vai passar a roleta.
Mesmo passando a roleta, os carros andam lotados nos horários de pico. O indicativo é de que talvez andem na rua menos ônibus do que seriam necessários. Mas aí diminui a margem de lucro dos maiores financiadores de campanhas eleitorais...
Ê, vida da gado, povo marcado...
Já quem tem que andar de trem, sofre ainda mais. Os bancos são de plástico. Duros. Ao encostar um carro na plataforma, centenas se aglomeram à porta. Quem não empurra e usa o cotovelo certamente fica para trás e não senta. Velho não tem preferência. Pelo contrário, ainda é empurrado, se bobear leva soco. Nas estações, escadas rolantes ficam desligadas em horários de pico, sem qualquer sentido (a impressão é de que sistematicamente são desligadas para economizar energia). Quando chegam a estragar, ficam até um mês paradas, esperando por reparos.
Aliás, a Trensurb é um péssimo exemplo de como o atual governo federal trata a população. O trem liga o centro de Porto Alegre com parte da região metropolitana (Canoas, Esteio, Sapucaia e São Leopoldo de forma direta, Novo Hamburgo por integração de linha de ônibus). Basicamente passa por seus vagões o povo pobre da região. O transporte da classe média e alta da região que vem para Porto Alegre usa a BR 116, que é centro do debate para sua melhoria, de forma a evitar engarrafamentos. É só do que se fala, parece ser a única preocupação dos políticos da região. Leio notas quase semanais de Redecker (PSDB, Novo Hamburgo) e de Ronaldo Zulke (PT, São Leopoldo), sobre a necessidade de construir uma nova via alternativa à BR 116. Para os carros e ônibus executivos trazerem a classe mérdea para comprar e ganhar dinheiro em Porto. Quase nunca se vê alguém preocupado em melhorar o trem.
Só o vereador Ralfe Cardoso (PSOL, Novo Hamburgo), fala a respeito. Lidera uma campanha para estender o trem até o centro de sua cidade. Certamente isso tornaria a vida dos pobres de Nóia mais fácil, para transitarem. E ele tá certo na luta que empreende.
Mas seria mais gente a ser tratada como boi ou pior que...
A Trensurb nos anos Lula não melhorou os serviços... Mas não significa que a empresa não tenha sido útil. Pra servir de cabidão, ah, isso sim, serviu...
E não significa também que não tenham feito cagadas anti-populares, porque fizeram sim: a passagem passou de R$ 0,75 para R$ 1,40. Isso mesmo: em quatro anos, quase dobrou de preço. Para que? Para investimentos na melhoria da qualidade do transporte... Ah, tá. Eu devo estar cego então...
sexta-feira, agosto 25, 2006
Assim não "tá beleza" não!
Começou a campanha eleitoral há uma semana. Por mais que a propaganda eleitoral obrigatória seja um instrumento democrático de acesso aos meios de comunicação (nos EUA, só pode colocar propaganda na TV e rádio comprando o espaço, fato que certamente torna as campanhas eleitorais ainda mais caras e concentradoras de poder), ela não deixa de ser profundamente enfadonha.
A começar, é um desfile de bravatas e frases de efeito sem qualquer conexão com a realidade. Assim, um candidato fala em, como deputado, "criar o Sindicato dos Policiais Militares". Um ilustre desconhecido pede o voto daqueles que testemunharam sua "dura luta contra o propinoduto". Colegas de partido dos indiciados no escândalo das ambulâncias, Edir Oliveira (PTB) e Érico Ribeiro (PP), estufam o peito para se dizerem "cansados de mensaleiros e sanguessugas", terminando por pedir voto para si (e seus partidos, por conseqüência) podendo, no cálculo da proporcionalidade, estar reconduzindo exatamente esses correligionários suspeitos à Câmara Federal. Até personagens do folclore, como o Gaúcho da Copa (uma caricatura de gaúcho que acompanhou copas do mundo com a Seleção e viagens internacionais do Grêmio na década de 90) aparecem como candidatos, dando perspectivas de que, se houver renovação na Câmara, ela pode ser para pior.
Em meio a esse festival de demagogia e fanfarronice, ficamos constrangidos de sentir qualquer choque com o que quer que se ouça, por mais absurdo que possa ser. Mas qualquer pessoa que tem critério acaba, lá pelas tantas, se sentindo ferida. Especialmente pelo fato de que o nosso grau de exigência deve ser maior tanto mais o autor dos absurdos seja alguém que busca se constituir como voz de credibilidade. Mais ainda quando sabemos que esse alguém tem grandes chances de obter um mandato eletivo.
Assim, não se pode exigir que o Gaúcho da Copa apresente um projeto de país. Mas se deve esperar e exigir que a Manuela (PCdoB) defenda o projeto de seu partido com argumentos verdadeiros. E quando isso não acontece, devemos ter o direito do choque, sim!
No dia 22 de Agosto, Manuela, em sua inserção no horário eleitoral no rádio, disse - logo depois do bordão "E aí, beleza?" (que se tornou sua marca desde a bem sucedida eleição de 2004, quando se tornou vereadora de Porto Alegre) -, em uma terceira pessoa do plural que pretendia referir ao seu partido e ao Governo de Lula que "criamos quatro milhões de empregos e rompemos com o FMI".
Não é nosso objetivo tratar da primeira parte das afirmações da Vereadora, nem fazer balanço do Governo Lula, em suas realizações e nos seus erros graves. O que quero é falar sobre a segunda parte.
Dizer que o Governo Lula rompeu com o FMI é uma mentira. Grosseira. Nunca se pagou de forma tão religiosa a dívida brasileira. Nunca se cumpriu de forma tão cristalina as recomendações exaradas pelo Fundo Monetário Internacional. O superávit gerado pelo Governo durante os anos Palocci ficarão na história brasileira como exemplo de como ser disciplinado em relação aos órgãos internacionais. Nem vamos entrar no debate se isso foi acertado ou não. Eu considero errado, mas tenho pouco conhecimento técnico para dizer o quanto e porque é errado. Os que defendem a reeleição do Lula devem achar certo. Dizer que ele rompeu com o FMI, no entanto, está fora do direito de um lado ou de outro na disputa.
Apesar do pouco conhecimento técnico em economia, sigo tendo a impressão de não ser tapado. Sou "ligado" o suficiente para saber que Manuela foi leviana na afirmação dela no horário eleitoral. E que, disputando apenas sua segunda eleição, ela já não se diferencia de todos os outros que repetem chavões a torto e a direito nos horários eleitorais ao longo dos anos, sem qualquer preocupação em cruzar palavras à realidade.
Dessa forma ela e seu partido abrem mão de politizar a eleição, disputar as consciências trazendo informações verídicas, mobilizando para um padrão renovado de política, como é obrigação de quem é de esquerda, independente da tática para o período. Mas é mais fácil falar frases de efeito e parecer radical. Mesmo não o sendo.
Ao renunciar a um centrismo coerente, o PCdoB resvala para um falso esquerdismo agravado por uma mentira grosseira, que faz com que qualquer pessoa consciente perca o respeito pelo seu novo quadro público, que começa a se mostrar como apenas "mais do mesmo".
segunda-feira, agosto 21, 2006
Hamlet
Tive ontem o privilégio de assistir à montagem de Hamlet dirigida por Luciano Alabarse, que terá mais uma semana em cartaz no Teatro Renascença, aqui em Porto Alegre.
Alabarse é um dos grandes diretores do teatro gaúcho. O texto dispensa maiores apresentações. A intenção da montagem é ser o mais fiel possível ao original. Para tanto, tem duração de 3 horas, algo quase impensável para o público médio.
Mas essa peça está tendo razoável repercussão. O público ontem não lotava o auditório, mas lhe dava relativa ocupação.
O fato é que é um grande espetáculo. Tem um bom elenco, figurinos apuradíssimos, etc, etc. Mesmo não sendo um frequentador assíduo do teatro porto-alegrense, pelo pouco que já pude ver, essa peça está muito acima da média. É realmente algo excepcional. Assim, recomendaria àqueles(as) que pudessem que aproveitassem ainda os dias em que ela se passará, apesar das dificuldades de acesso ao Renascença, que fica muito mal localizado(se considerando que se sai da peça tarde). Mas pra quem pode se programar de algum modo, estará vendo uma grande peça.
quinta-feira, agosto 17, 2006
A favor do horário eleitoral
Toda vez que se inicia esses 45 dias de horário eleitoral gratuito no rádio e televisão, é a mesma ladainha: muitos jornalistasque se arrogam muito críticos mas só fazem reproduzir a linha do patrão começam a dar de pau na existência do chamado horário eleitoral gratuito.
Primeiramente, cabe dizer: de gratuíto ele não tem quase nada. As emissoras de rádio e televisão ganham uma compensação tributária bastante interessante para abrir mão de parte de sua programação durante esses parcos 45 dias. Ou seja: ele só é gratuíto, na verdade, para os partidos. Ainda assim, eles acabam gastando bastante para produzir um programa razoavelmente apresentável. Portanto, não é gratuíto para eles também, não.
"Segundamente", cabe referir: não existindo horário eleitoral obrigatório, dividido proporcionalmente entre os partidos de acordo com sua bancada federal, de que forma os candidatos e partidos acessariam os meios de comunicação de massa para passar sua mensagem? Qual a proposta alternativa?
Sim, isso mesmo: copiar o modelo dos EUA. Sabe qual? Quem quiser acessar os meios de comunicação com propaganda compram o tempo, como um comercial qualquer.
Ora bolas, "vamos e venhamos"! Será que a "democracia" estadunidense merece ser copiada? Em especial, ser copiada no que ela tem de mais corrupta, concentradora e excludente?
Nem sei quanto custa um minuto no horário nobre da Globo, mas acredito que seja um custo bem razoável. Assim, teriamos um bombardeio de propaganda dos candidatos endinheirados que, por isso, ganhariam, necessariamente a eleição. Os candidatos que quisessem se eleger para qualquer coisa teriam de gastar ainda mais, arrecadar ainda mais, venderem sua alma ainda mais do que já vendem.
Num momento em que tantos escândalos estouraram exatamente em razão dos altos custos de campanhas eleitorais(ao menos um dos motivos parece ser esse), os cinicos donos de emissoras de rádio vem com essa besteira pra tentar enfiar nas "consciências" de seu público, que geralmente tem pouca informação (até porque só houve suas emissoras cínicas!) e cai fácil no discurso senso-comum.
E assim vem um Macedão (apresentador de programas na Rádio Gaúcha, um sujeito bronco, que beira o fascismo e faz questão de ser raso nas suas opiniões) bancar esse tipo de opinião e fazer o discurso fácil de "bater nos políticos".
Vamos parar de demagogia, senhores jornalistas-que-são-pelegos-do-patrão! O horário eleitoral obrigatório, por mais que seja enojante de ver, chato, etc, etc, é uma das coisas mais democráticas que o sistema eleitoral brasileiro prevê.
Eu chorei ontem.
Uma das coisas que alimenta a infância de qualquer sujeito é o futebol. E que o mantém lá, a vida toda. Para quem gosta, o futebol dá alegrias que nunca mais vai tirar. É diferente de você sonhar em eleger um sujeito presidente, porque você corre o risco de ter se enganado. Mas um título no futebol não, ele nunca deixará de ser seu.
E o Internacional é o Campeão da Libertadores da América de 2006. Um time que tem um zagueiro chamado Bolívar é campeão da copa que homenageia os Libertadores da América. Nada mais justo. O time do povo do Rio Grande do Sul.
Eu chorei ontem quando saiu o primeiro gol do Inter. Iria sofrer muito ainda até o final, até a certeza. Mas eu chorei porque ali eu me dei conta de que o sonho do menino que tanto sofreu por causa dos sucessivos times ruins estava finalmente vendo tudo ali acontecer. Era, finalmente, campeão.
segunda-feira, agosto 14, 2006
O filme Reencarnação, que vi há poucos dias, é uma completa forçada de barra.
A película dirigida por Jonathan Glaser e com elenco encabeçado pela sensacional Nicole Kidman parece ser perder no meio do caminho, mas talvez o vício esteja na origem.
Grosso modo: um garoto de 10 anos aparece para a protagonista dizendo ser a reencarnação de seu falecido marido. Anna está prestes a casar pela segunda vez e acaba entrando numa grande confusão diante da "ofensiva" que o garoto Sean empreende em relação a ela, tentando impedir que ela se case para ficar com ele.
O filme causou polêmica pelo fato de em alguns momentos arranhar a pedofilia. Mas sinceramente - não sei se eu sou muito relativista quanto a isso - mas é o de menos. Talvez tenha sido um estratagema do filme pra chamar a atenção.
O fato é que por momentos você vendo o filme imagina que haverá algum desfecho interessante, que aquela piração toda pode ser a manipulação do garoto por alguém ou que, sei lá, o garoto é precoce e inventa uma maneira de tentar pra cima de Anna. Mas nada disso... o filme fecha sem fechar.
E aí de um filme que chega a prometer - até porque tem um bom elenco(o garoto que faz Sean é excelente), boa fotografia, tudo isso - termina sendo uma tremenda perda de tempo. Ruim mesmo.
terça-feira, agosto 08, 2006
Porque eu voto na Heloísa
Aí do lado tá um banner da Heloísa Helena. É nela que vou votar pra presidente. Quem lê o espaço aqui há algum tempo sabe que fui militante do PT durante 10 anos. Quem olhar lá na memória mais antiga sabe que em 2002 chorei nos dias da eleição ou da posse do Lula. E estamos aí, votando na Heloísa....
Porque o Lula infelizmente fez muito menos do que aquilo que seria razoável que fizesse. Não imaginava que ele fosse fazer a revolução brasileira. Não achava que ele fosse fazer uma profunda reforma agrária ou urbana. Ou que fosse estatizar as empresas privatizadas de forma criminosa durante o governo do Fernando Henrique. Sequer tinha a idéia de que ele iria bater de frente com o sistema financeiro. A sua eleição em 2002 não falava nisso e nenhum sinal indicava que fosse por aí caso fosse eleito. Quem conhecia as coisas mais próximas, como eu à época, sabia que não era a pretensão do PT, sequer, radicalizar.
Mas esperava, como tantos, que Lula fosse ao menos utilizar sua liderança e prestígio tanto popular quanto perante os setores médios e mesmo a elite do país pra liderar um processo de aprofundamento democrático do país, politica e economicamente. Que fosse investir na educação pública, num projeto de desenvolvimento econômico inclusor, fosse antes de mais nada garantir a legislação protetiva já existente, que vinha sendo tão dilapidada nos anos anteriores.
O que tivemos? Uma reforma da previdência cretina, a liberação dos juros legais, a majoração dos juros nominais. Aumento de lucros dos bancos. Negociatas com os piores setores da política tradicional brasileira, redundando nos escândalos que aí estão estourando ou já caindo no esquecimento, como mensalão, sanguessugas e outros tantos pequenos. Dentro do PT, a democracia esgotou, nos seus mais diferentes meios. Tudo se tornou muito pior do que já vinha sendo.
E ai só nos resta tentar tudo de novo...
E ai é que entra o voto em Heloísa Helena.
Não creio que Heloísa possa ganhar a eleição. Não creio sequer que chegue ao segundo turno. Não costumo ser otimista com essas coisas. Não costumo endeusar ninguém. Acho que a minha candidata dá algumas bola-fora, discordo de muitas das coisas que ela diz. Mas é da imperfeição que se avança. A mitificação e acriticidade não nos tem levado a nada.
Votar em Heloísa Helena é começar a alimentar um projeto alternativo de país, é dizer que um governo deve se preocupar em distribuir renda, equilibrar as relações sociais/econômicas, que o Estado brasileiro deve intervir para permitir aos que nada tem tentarem ter algo, no futuro. Eu quero apenas ver, um dia, um governo que cumpra a Constituição de 88 e não a tente retalhar como, aliás, Lula propõe que se faça em seu segundo governo. O cara não se contenta com o que já fez e dá a idéia de uma Constituinte para o ano que vem onde, talvez, com maior liberdade, possa esse Congresso de merda cortar os artigos 5 e 7º da Constituição, que não podem, em circunstâncias normais, serem objeto de emenda, cortando direitos individuais e coletivos fundamentais. Eu não tou falando em socialismo não, apenas em cumprir a Constituição de 88! Que o PT não assinou, à época, por considerar recuada demais, anti-popular! E que agora quer destruir...
Por essas coisas, a candidatura da Heloísa Helena é importante. Será bom para o Brasil que ela faça 10, 15% dos votos e se torne uma alternativa, um contraponto, uma pedra no sapato. Para que talvez possamos ainda sobreviver.... e sonhar...
Mais um...
Eu fiz 28 ontem. Tenho brincado com os amigos que depois dos 25 eu já evito dizer a idade e não fiz mais festa...
Mas é porque de alguma forma os últimos anos têm sido muito duros pra mim. Talvez esse aniversário coincida com um amadurecimento maior, uma consequencia maior das coisas todas que tenho feito ou fiz muito antes e que agora, de certa forma, tou "pagando". O fato é que estou melhor do que já estive. E tenho certeza de que o melhor ainda está por chegar.
Fora isso, apesar de realmente não haver nenhum grande entusiasmo, é sempre bom receber carinho das pessoas, mensagens que fazem quase-chorar, tudo isso. E se ainda rolarem uns presentes, fecha todas! Agradeço a todos que lembraram e entendo os que não lembraram, até porque eu não costumo divulgar mesmo.
O fato é que é isso... os 30 tão vindo aí....
quinta-feira, julho 27, 2006
Caché é um filme francês, como o título preservado do original já indica. Ao final, se perceberá isso, pra bem e pra mal.
É um filme bem feito, mas não chega a ser um grande prazer visual. É enrolado em alguns momentos, tem um final que não resolve tudo... bom elenco, diálogos bons e longos.... faz pensar.... ou seja, é um filme francês.
A história centra num casal (interpretado por Daniel Auteuil e Juliette Binoche) que começa a receber vídeos em que sua casa está sendo monitorada diuturnamente. Após, esses vídeos passam a revelar o passado de Georges, de forma que ele é obrigado a se defrontar com traumas de infância.
A história é de algum modo uma alegoria da própria sociedade francesa de virada de século: por mais que tudo pareça bem, há um drama de consciência presente: a relação da sociedade média com os excluídos, especialmente de origem árabe, especialmente com as ex-colônias, em que a Argélia será o símbolo maior. O trauma de George é isso: ele ainda criança foi decisivo, por suas tramas, pra que seus pais não adotassem um menino cujos pais argelinos foram mortos durante o conflito, na década de 60. Agora esse menino volta, pra atormentar a sua consciência: é um suburbano pobre, enquanto ele é uma celebridade nos meios intelectuais. A idéia, portanto, de que por mais que queiramos esconder o passado, ele bate à porta.
A idéia, portanto, é interessante. Mas o filme escorrega em alguns problemas, especialmente porque inventa uma série de mistérios que não resolve. Não que um final deva resolver tudo, mas não se deve - creio eu - inventar mistérios desnecessários, coisas que não são centrais à história. Isso acaba ocorrendo no filme. Mas é um bom filme, sim. Filme francês, afinal...
Ah: Juliette Binoche é sempre linda.
sexta-feira, julho 21, 2006
O Lenhador é um filme perturbador. A história é fundamentalmente a seguinte: um homem sai da cadeia após 12 anos de pena por ter abusado sexualmente de meninas. A partir da saída dele, se estabelece a trama: a tentativa de viver em paz, de não voltar a cometer o mesmo crime, por mais que se sinta permanentemente tentado; a perseguição que a sociedade lhe faz, seja pela polícia, seja pelos colegas de trabalho, seja pela família que o rejeita.
Assim, há duas coisas, fundamentalmente: existem criminosos compulsivos, que certamente reincidirão? Ou como ajudar para que isso não aconteça? a sociedade ajuda ou só massacra as pessoas? Afinal de contas, o sistema de controle social vigente é válido? Tudo isso passa pela história que, pela interpretação precisa de Kevin Bacon, se torna ainda mais um filme perturbador, que mexe com um espectador mais atento e receptivo a um filme que é forte, tenso e faz pensar sobre a vida, certamente. Sobre, inclusive, o quanto cada um de nós guarda fantasmas, talvez.
Se em Grisham(abaixo) o grande barato é a distração com um pouco de reflexão, tudo muda muito de figura quando temos de descrever uma leitura como Cinzas do Norte, do amazonense Milton Hatoum, que é um dos grandes escritores que o início de século nos trouxe. Seu primeiro romance data de 1989, mas ele se tornou conhecido a partir dos anos 00, em nível nacional, especialmente do "grande público" leitor, que de grande não tem nada, em se tratando de Brasil.
Hatoum escreve sempre com Manaus como cenário. É uma literatura em que o espaço é tão importante quanto os outros elementos. A partir do cenário, muito da identidade dos personagens se revela, ele está presente em cada trecho do livro, muitas vezes de forma explícita, quase chegando ao descritivo.
Cinzas do Norte tem uma novidade, no entanto: é um romance mais contemporâneo. Ao contrário de seus dois romances anteriores, ele não trata da colonização de Manaus e da migração dos libaneses pra Amazônia, tema que organiza os dois livros. Agora, Manaus é uma capital que abriga as contradições de forma muito mais clara, onde o contraste entre ricos e pobres é o pano de fundo para uma relação conflituosa entre um pai rico e um filho rebelde nos anos da ditadura militar. A violência psicológica, física e política são tema do romance. A amizade entre Mundo e Lavo, que narra a história, é o elemento que organiza a narrativa. O texto, mais uma vez, é tão importante quanto o conteúdo, porque estamos tratando de um dos grande escritores brasileiros da atualidade(com mais alguns anos, poderemos talvez ter Hatoum como O grande escritor brasileiro).
Temos, portanto, um Hatoum diferente dos anteriores, talvez pra provar que não é apenas um narrador da história de sua família, mas um escritor sobre o Brasil. E talvez nisso o fato de nos trazer à presença um "canto" a nós tão estranho do Brasil faça do seu texto algo ainda mais fascinante do que seria se narrasse um dos centros urbanos a nós mais familiares.
Ler Milton Hatoum é, portanto, compor um pouco mais uma identidade de Brasil que ainda nos falta. É ler necessariamente um dos grandes textos do momento. E é até mesmo perceber que por mais que vivamos dias cinzentos, o país evoluiu nos últimos 30 anos, sim. A ditadura militar que ambienta o livro é um dos elementos da tristeza que perpassa toda a história. Só com muitas ilusões se pode ser feliz perante tamanha brutalidade, como a de nossas ditaduras.
quinta-feira, julho 20, 2006
Mais uma vez li John Grisham e achei interessante. Em A Confraria ele narra uma história muito apropriada aos dias atuais.
Um agente da CIA está preparando um candidato a presidência capaz de ser manipulado por ele, no sentido de aumentar os gastos militares e, com isso, satisfazer ao interesse da indústria de armas. A pauta única do candidato: segurança externa, atiçando o medo dos estadunidenses com comunistas, eixo do mal, seja lá o que for. Se vê o Bush, muito, no personagem.
De dentro de um presídio, três ex-juizes praticam atos de extorsão contra quem está lá fora, buscando através de um sistema de correspondência tirar dinheiro de quem cai na sua rede. Tal fato nos é muito familiar, em tempos em que, de dentro dos presídios, muitos chefiam quadrilhas.
Aos poucos, esses dois núcleos começam a se cruzar, já que o candidato a presidente cai na trama dos juizes presidiários. E assim de desenvolve a interessante história.
Grisham, já disse antes, é um autor best-seller muito razoável. Através de suas tramas fáceis, absolutamente enquadradas num tipo de literatura, digamos assim, "menor", ao menos nos apresenta temas interessantes, de alguma forma expondo um lado da sociedade dos EUA que poucos gostam de tratar: a corrupção enraizada no sistema político e judiciário, a ambição desmedida, a paranóia militarista e o que está por trás disso. Ler seus livros, além de uma distração, serve pra uma reflexão relativamente interessante sobre os interesses que movimentam a sociedade dos Estados Unidos, nos fazendo entender um pouco melhor por onde caminha a humanidade. Infelizmente.
quinta-feira, julho 06, 2006
Um pouco de férias...
E eu estou precisando descansar. Cheguei ao fim do semestre cansado, visivelmente. Nos mesmos dias consegui cometer erros grosseiros no trabalho e em provas, de modo a ficar em Grau C na cadeira que mais gostava, onde tinha a obrigação de passar com boa nota. O legítimo momento "batendo pino".
A falta de grana também ajuda você a pirar. Parece que tudo agora está caminhando a melhorar: recebi uns atrasados, terminaram as provas e terei uma semana de descanso também do trabalho. Momento de parar...
Pelotas, me aguarde!
Não adianta: ele é O cara!
Eu que sempre gostei de futebol, estive durante alguns anos me preocupando mais com outras coisas, como política, fazer sexo, essas bobagens aí... voltei a me preocupar com futebol há uns três anos, quando quase abandonei totalmente esses outros focos de atenção. Logo, perdi de ver alguns dos melhores anos de Zinedine Zidane. Ainda assim, o vi jogar: um jogador de toque fácil, da força e do espetáculo, tudo jundo reunida. Como não sou um torcedor apaixonado da Seleção Brasileira, doeu nada ver ele amassar o Brasil. Enquanto todo mundo chorava, eu confesso que me deliciei vendo um futebol bonito aparecer, depois de tanta dureza, combatividade e força que são importantes, mas não enchem os olhos como ao ver um jogador de talento aproveitar os espaços deixados.
O elegante craque e cidadão Zinedine Zidane está se encaminhando para um final de carreira belíssimo, coroando uma história vitoriosa como jogador e como sujeito. Do que já li sobre, Zidane se comporta como um cidadão consciente, se utiliza da sua "grife" pra não apenas ganhar dinheiro, mas dizer algumas coisas importante, algo tipo um "Bono Vox do futebol". Mesmo calado, Zidane é um símbolo: nos anos em que cresceu assustadoramente a opção fascista de Le Pen na França, pregando o racismo, a discriminação e tudo o mais, o maior ídolo francês é um filho de argelinos, suburbano, tudo aquilo que os fascistas acham que é anti-francês, desprezível. Ele demonstra o contrário. A seleção francesa multicampeã demonstra o contrário: é um grupo composto quase que somente por filhos de argelinos e negros.
Pelo grande líder que tem, pelo futebol mais bonito que joga - e, admito, porque sou um pouco francófilo -, sou francês desde criancinha nessa final de Copa do Mundo...
Livros, livros...
Li outro Graham Greene na sequencia: Fim de Caso, que foi adaptado para o cinema. É uma história de amor, com alguns dos vícios das histórias de amor. Um homem não entendo porque foi deixado pela amante. E a partir disso se desdobram os fatos, no pós-2ª Guerra.
É interessante observar como a Guerra muda a vida das pessoas. Isso de algum modo aparece na história de forma bem colocada.
terça-feira, junho 13, 2006
Sim...
... eu gosto de Copa do Mundo...
Livros...
O Poder e a Glória, escrito em 1940, pelo inglês Graham Greene é um romance interessante. Greene era um católico militante. No final da década de 30 ele vai ao México e, chocado com o que lá ocorria, escreve um romance protagonizado por um padre que - numa província em que os católicos estão sendo reprimidos e os padres, em grande parte, fuzilados - foge, sem rumo claro. A necessidade de não fugir da sua fé o faz, o tempo todo, estar perto de se entregar. Mas sempre pensa que não lhe cabe se entregar, mas seguir fugindo...
O livro tem 200 páginas, tem uma drama humano interessante, suspense, ritmo, diálogos, personagens. Literatura de verdade, não essas coisas aí de que se fala tanto, hoje em dia...
quarta-feira, junho 07, 2006
Azares
E ontem eu estava vivendo um final de tarde interessante, até que a porta automática do banheiro em que eu estava voltou quando eu saia deste e pegou meu indicador esquerdo(e eu sou canhoto, pra escrever). Logo a seguir eu sentei e senti aquela dorzinha no braço direito(isso mesmo!), latejou o corpo todo. Mas foi depois que eu deitei que a coisa piorou. Não consegui dormir. E o dedo agora, quase 20h depois, está inchado, a unha roxa por baixo, uma coisa lamentável. Estou imprestável pra qualquer coisa... O cara leva uns azares, às vezes, que olha...
Eva Luna
Minha nova leitura foi Eva Luna, da chilena Isabel Allende. Dela tinha lido De amor e de sombras, que é melhor, por sinal. Mas de toda forma, esse romance é muito interessante. Bem escrito, especialmente na sua primeira metade, ele perde um pouco o fascínio no final. Não diria que se torne inverossímil porque ele dialoga, todo ele, com o realismo fantástico à lá Garcia Marquez, de forma não tão brilhante como Gabo, evidentemente... Mas o final perde a lógica, me decepcionei. De toda forma, a história da menina que se cria sozinha no mundo, pulando de casa em casa, de proteção em proteção, em meio às turbulências de um país latino qualquer é interessante, pela beleza, pela identidade que organiza. Um belo livro de uma escritora interessantíssima.
quinta-feira, junho 01, 2006
Eu não tenho escrito...
Não tenho escrito aqui. Na real por não ver sentido, atualmente... estou muito em dúvidas sobre o que eu penso de cada coisa. E ainda por cima entediado: estou na reta final do semestre, na "facul". Tou cansado, no geral. E sem net no meu computador do trabalho... ou seja... Tédio com um T bem grande...
terça-feira, maio 23, 2006
Quase tudo
Sim, eu leio Quase Tudo, literalmente. Menos Dan Brown e lívro espírita. Depois de minha vó(que tem exatamente a mesma idade de Danuza) ler a biografia recentemente lançada de Danuza Leão, começou a me contar um a um os fatos, até que achei melhor ler o livro logo. Se trata, aliás, de leitura rapida e interessante.
Danuza tem 72 anos. Viveu três casamentos com jornalistas importante(Samuel Weiner, dono do polêmico Ultima Hora, que mexeu com o modo de fazer jornal no país e notório amigo de Getúlio e Jango Goulart), com o cronista do jornal do primeiro marido, Antônio Maria e com o atual âncora do Bom Dia Brasil, Renato Machado. Especialmente em razão do casamento com o primeiro, viu os fatos históricos acontecendo, à sua frente. Com o golpe, em 64, se viu na necessidade de exilar-se com o ex-marido, para bem cuidar dos filhos. De volta ao país em 69, estava na casa ao lado do cativeiro do embaixador Charles Ullbrick, dos EUA, no famoso sequestro. Era amiga íntima de uma das sequestradoras e com ela conviveu inclusive nos dias dos fatos. E assim ela vai tropeçando nos acontecimentos, muitas vezes sem nem entende-los bem, porque se confessa - e demonstra ser - uma pessoa de mediana intelectualidade, apenas. Irmã de Nara Leão, também desse acasos, viu nascer o movimento da bossa nova. Viu Vinícius, Tom, Chico e outros passarem pela sala da sua casa sem lhes dar a mínima, apenas como "os amiguinhos da Nara".
Além disso, e aí deliberadamente, viveu grande parte da evolução do funcionamento da elite brasileira. Foi colunista social, ainda recentemente, administrou casas noturnas, fez amizades no grand mondé. E tudo isso faz do livro um interessante relato de alguém que viveu. É sempre interessante ler coisas diferentes daquilo que compõe nosso mundo. Esse livro é isso: um relato interessante sobre uma figura interessante.
sexta-feira, maio 19, 2006
Best sellers
É, eu vez que outra leio algum best seller. Frederick Forsyth foi um autor desse tipo Dan Brown, há uns vinte anos atrás. Desses tantos autores que escreveram na lógica da Guerra Fria: sobre espionagem, complôs para matar presidentes, etc.
Em Dia do Chacal, Forsyth conta a história de uma das tentativas que a OES, uma organização de extrema-direita, fez no sentido de matar o presidente da França, Charles De Gaulle, um dos tantos complôs infrutíferos. Beirando o limiar entre ficção e realidade, o livro traz uma narrativa fascinante. Baita leitura!
segunda-feira, maio 15, 2006
Histórias curtas
Ele queria encontrar um adjetivo praquele quarto de motel. Sórdido? seria elogio.
SP
Eu não gosto de São Paulo. Já devo ter dito isso uma dezena de vezes aqui. Mas adoro algumas pessoas que lá moram. Fica minha sincera vontade que essas pessoas estejam bem, todas elas... E pra que a cidade delas volte ao normal... por mais que, pra mim, o normal de São Paulo não seja lá muito atrativo... mas enfim: paz aí, galera... tou aqui torcendo...
O medo... o terror...
Eu fico um tanto quanto apavorado com o que está acontecendo em São Paulo. Porque foge à tradição do Brasil, inclusive... creio que o que mais nos assusta é isso: somos pacíficos, não é da nossa rotina ações de terror, de "vanguarda", como poderiamos dizer que seja o PCC(ou será uma retaguarda?)
Infelizmente, isso é só mais uma demonstração de que vivemos pertíssimo da barbárie. Que nosso futuro é duríssimo. O que está acontecendo agora pelas ruas da Grande São Paulo é aquilo que já ocorre nos morros das grandes cidades. Só que aí a classe média e a imprensa não percebe, não chia, não reclama: enquanto está acontecendo a opressão e morrendo só lá, os pobres, tudo parece que nem existe pra quem tem voz. Quando cada um de nós pode ser a próxima vítima, isso faz o grito.
Solução? Só uma mudança radical do mundo pra melhor. Enquanto houver capitalismo, não vai haver paz, realmente. Só paliativos para MINORARAR a violência. Mas boa parte do capital do mundo hoje se reproduz através da indústria da violência e do medo: tráfico de drogas, armas, gente... venda legal de drogas, armas, grades... eleição de políticos fascistas que prometem combater a violência... isso tudo é um ciclo vicioso que nunca se romperá dentro do sistema capitalista.
Eu me assusto com o fato de que posso ser a próxima vítima. Mas me assusto ainda mais com os remédios: exército na rua, mais polícia na rua, suspensão de direitos individuais... isso pode ser ainda maior mal que o problema original.
Mas quando passamos a viver o terror, o caminho pra soluções fascistas fica cimentado...
quinta-feira, maio 04, 2006
Bah!
Acabo de ler Noites Felinas, de Ciryl Collard. Da década de 90, virou filme também, que ainda não vi. Com a conversão de tudo para DVD, talvez nem nunca ache.
Grosso modo, trata de uma espécie de auto-biografia do autor, portador de HIV, que morreu em meados dos anos 90. Da insanidade dos relacionamentos, do flerte permanente com o perigo, da sua própria canalhice, consigo e com os outros. Não me identifiquei muito, mas ainda assim essas histórias de loucura e sexo sempre são impactantes...
quarta-feira, maio 03, 2006
Uma dor tardia, mas dor
Leandro foi uma das pessoas que conheci no movimento estudantil, em Pelotas. Negro, pobre, lutador. Um grande sujeito. Alegrava onde estivesse, necessariamente. Tolerante, foi uma das pessoas com quem mais convivi num momento em que precisei de tolerância, de amigos desprovidos de preconceitos. E nesse sentido o Leandro foi um grande parceiro.
Mudou para Porto Alegre mais ou menos na mesma época que eu. Conseguimos que ele trabalhasse na Secretaria do Trabalho, era a época em que podíamos... início do governo do Olívio Dutra, em 99. Fizemos festas juntos, éramos uma turma numerosa, até... acreditávamos em coisas boas, que a gente tava mudando o mundo pra melhor... faz pouco tempo, mas faz muito...
Dai depois o Leandro foi desaparecendo... encontrei ele no Brique em 2003, tomamos uma cerveja, ele tava estranho. Lembro que foi uma conversa tão boa que eu logo alguns dias depois liguei pra ele e o telefone não atendeu. Depois o número não "existia mais".
Só agora fiquei sabendo: ele tinha uma doença rara. Por isso mudou pra Porto Alegre naquela época, porque se trataria de forma mais adequada. E que há dois anos morreu.
Estou muito sentido. Porque não tenho a experiência da perda de amigos, de pessoas próximas assim. E sentido de não ter ajudado, de sequer ter compartilhado disso. De ter demorado tanto a saber. Ainda assim, mesmo tardiamente, dói um pouco saber que não vou mais encontrar o Leandro, aí, pela rua, como acontecia antes. Eu seguidamente pensava em como achar ele, onde estaria morando, porque tinha desaparecido... saber agora a notícia é um choque em alguém que não está preparado para perder pessoas queridas, assim, tão jovens...
quinta-feira, abril 27, 2006
Gota D´Agua
Chico Buarque e Paulo Pontes escreveram, em meados da década de 70, a peça Gota D´Água, que, entre tantas outras, foi proibida pela ditadura, depois de algumas apresentações.
A peça reconta a tragédia clássica de Medéia, adaptada aos dias atuais, numa favela do Rio. Texto belíssimo, ritmado e profundamente crítico, Gota D´Água traz a marca de gênio que Chico põe em tudo. Da profunda crítica social que boa parte de sua obra traz. É um dos grandes textos do teatro brasileiro, certamente. Por mais que pouco conheça de teatro... E mantém total atualidade, mesmo com a "mudança de tempos" desde que a peça foi escrita, há trinta anos.
A edição é recente, pela Civilização Brasileira. Merece uma olhada.
segunda-feira, abril 24, 2006
Política
Quem quiser ver coisas que tenho escrito sobre política, eu tenho dois textos na revista Marxismo Revolucionário Atual que não vou colar aqui porque ficaria completamente fora do espírito desse espaço.
Uma boa viagem...
Poxa, a ida a Pelotas foi boa. Fiz quase tudo que de melhor se pode fazer na vida: sexo, drogas, MPB, comida da mãe, reencontro com amigas, tudo isso. Decididamente, tem sido bom ir, sempre, ultimamente. Creio que os grandes problemas que tinha no passado com a cidade estão superados, na minha identidade. Me sinto bem sempre que vou lá. Aliás, só tenho feito festa lá, nos últimos tempos. Só tenho conhecido gente lá... Creio que as visitas frequentes sejam boas. Claro que custa caro, mas eu vou procurar manter uma média mensal, ao menos...
quinta-feira, abril 20, 2006
A caminho...
Vou a Pelotas no feriado. Queria parar em casa sem tanta obrigação de estudar, de fazer coisas. Mas tenho que ir... tou em débito com a família e com alguns amigos e amigas preciosos. Três dias pra me colocar um pouco em dia com esses débitos.
Ovo Apunhalado
Quando fui assaltado, há dois meses, me levaram a mochila, dois livros e uma parte dos nervos. Como um dos livros era da biblioteca da Unisinos, tive de comprar e restituir à mesma. O outro era O ovo apunhalado, de Caio Fernando Abreu. Tinha comprado naqueles dias, quase como uma homenagem aos 10 anos da morte dele, que então se fazia.
Há alguns dias resolvi comprar de novo, como uma forma de reconstituir as coisas que tinha antes do roubo, uma forma de auto-estima, talvez. E essa semana o li.
Eu por alguns momentos me senti meio tapadinho, sei lá. Já li coisas de Caio que gostei muito e, em especial, que entendi. Mas os contos desse livro são muuuito abstratos, boiei em quase todos. Claro, em quase todos. Ainda assim tive momentos de muito prazer lendo, alguns contos exemplares.
segunda-feira, abril 17, 2006
Corrido
Não tenho postado tanto aqui.
Não que não tenham acontecido coisas... mas estou numa correria grande. Por um defeito do provedor, não tenho acessado alguns sites do trabalho, dentre eles o blogger. Assim, complica também... E eu tenho por princípio não contar coisas que fujam ao propósito discreto desse blog. Minhas eventuais aventuras, por exemplo, não entram aqui. Logo, há poucos assuntos...
Vastas emoções e pensamentos imperfeitos
O título desse romance do Rubem Fonseca é genial. E o texto, em si, talvez alcançe Rubem em um de seus melhores momentos. Há nele a ironia fina que caracteriza seu texto, há o suspense, há a fluidez que faz com que se leia rapidamente, tudo isso.
Mais: Vastas Emoções... é uma grande homenagem de Rubem Fonseca ao romance policial, especialmente aos thriler. Me lembrou muito Dashiel Hammet(Falcão Maltês), pela história que foge ao chavão da história de desvendar um assassinato, apenas, para a construção de um texto em que ninguém é inocente e onde as motivações são muito mais econômicas do que alguma maldade intrínseca de um homem abominável. Bom pra caramba!
segunda-feira, abril 10, 2006
Putz II
E ai que tou querendo recuperar o ânimo dos desestímulos de ontem. Sexta e sábado tive experiências super interessantes, pra desencanar sobre coisas de antes, da minha vida "sentimental". Nada que eu vá contar aqui, mas experiências sobre como levar isso tudo de forma mais sexual, "curtir" mais. Ser banal, ordinário. É isso que na real todos esperam de você...
E do que é mais recente, tou fora. Mesmo. Nem cicatriz tem. Mas não precisa seguir tentando meter a faca, certo? Eu já entendi o suficiente... lamento e não posso fazer nada além disso. Silêncio.
Putz!
Ontem foi um dia pavoroso. E hoje segue o tempo encoberto, por aqui, na minha cabeça.
Meu time perdeu ontem o greNAL. Em casa. Mas isso acontece. Se eu for me estressar com resultado de futebol, por favor...
O que me deixou puto da vida ontem foram outras duas coisas, relacionadas ao jogo:
1) O Beira-Rio estava lotado. 57 mil pessoas. Dai a arquibancada superior, onde freqüento sempre, não tinha mais onde sentar ou mesmo onde parar em pé. Procurávamos lugares e eu me envolvi em vários bate-boca por procurar lugar, em meio ao amontoado. As pessoas não querem nada além de resolver o seu problema. Se outros não tem para onde ir, não importa: elas querem apenas ver o jogo, sem ninguém por perto. E baixam o nível em nome disso. Nessas horas você vê que ser generoso é a exceção, infelizmente. E aí eu fiquei muito estressado, sou profundamente suscetível a esse tipo de coisa, talvez também por isso: sou um sujeito que divido o último cigarro com o maluco que eu nem conheço, tudo pra ser gentil, generoso, educado, solidário. Eu acredito num mundo assim...
2) Eu sou sócio do Inter. Pago por mês, débito em conta. Pra ter lugar no Estádio. Não pra ficar vendo de um acesso, pedaços do campo. Tou puto da vida... Repensando se quero seguir indo a jogos no Estádio...
segunda-feira, abril 03, 2006
E sábado teve greNAL. Fui lá, como sempre tenho ido, nos últimos anos. É um momento diferente, ir ao futebol variando o Estádio(quer dizer... estádio modo de dizer...)
Chegar e sair de um clássico na casa do outro é sempre complicado. Camisetinha por cima da do time, cuidando pra não se ver cercado, uma ou outra pedra passando perto, corre pra lá, sai pra cá, mas ainda assim, já que não aconteceu nada de errado comigo, apenas diversão.
Foi O x O. Como todo mundo tinha como certo que o Inter ganharia, ficou um gostinho de derrota pra nós e vitória para os gremistas. Cheguei a receber mensagens e telefonemas de gremistas gozando, como se tivessem ganho. Estranho: sempre achei que em casa se deve ganhar jogo... Mas enfim, esse mundo tá meio virado, ultimamente.
Ontem vi o último Woody Allen, Match Point.
Geralmente gosto dos filmes dele. Esse não foi diferente. Um roteiro bem escrito como sempre, Londres como cenário sendo bem aproveitada, dois atores principais lindos e talentosos: Jonathan Rhys-Meyers e Scarlett Johanson. Baita filme.
quinta-feira, março 30, 2006
Se ela dança...
Pois então acontece mais uma... a tal da dança da deputada Ângela Guadagnin foi o pano pra manga da semana passada. O que se dizer?
Conhecendo o processo de degradação porque o PT vem passando, posso dizer que é apenas um símbolo, infelizmente, de como a maioria absoluta dos petistas vê hoje o fazer política. Não importa se está certo ou errado. O que importa é que o deputado Magno(PT-MG) foi absolvido. Ponto. O resto é besteira, choro de perdedor. Moralismo. E ai vem o papo: ?quem é o PSDB ou o PFL pra falar alguma coisa??, como se o problema da corrupção fosse uma questão de quem rouba menos. Colocar-se no mesmo saco não era o que o PT fazia há alguns anos. A idéia era justamente de que existia um outro fazer política. É justamente isso que o PT abriu mão: disputa agora com o PSDB é quem é menos corrupto e mais eficiente. E quem vem mais de baixo. Ou quem é mais esperto.
Daí a dança da Guadagnin é apenas uma fanfarrice, uma galhofa a mais. Um símbolo.
segunda-feira, março 27, 2006
Impressionante! Essa é a palavra pra definir o filme Capote, de Benett Miller, protagonizado por Philyp Seymour Hoffman, ganhador do Oscar de melhor ator do ano.
Não é somente um "filme de um ator", como li por aí. Não concordo. É antes de mais nada uma história de uma grande personagem. O escritor talentoso e personalidade ambígua que foi Truman Capote merecia ser posto em evidência assim, dissecado, como o filme faz e as repercussões deste, necessariamente o fazem também.
O foco biográfico em apenas cinco anos da vida do personagem é suficiente para entende-lo: a relação obssessiva com os holofotes, a egolatria alucinada, a relação instrumental, mas contraditória, que ele adota com um dos assassinos do caso que ele procura investigar, tudo isso torna o período em que ele pesquisa e escreve "A Sangue Frio" o período suficiente para que se entenda o tamanho do gênio e o caráter nebuloso do protagonista.
É uma história que reflete também sobre a dureza do processo criativo, sobre ética, sobre um conjunto de questões que ele aborda, ali, num roteiro excepcional e, claro, com um ator magistral como protagonista. A imitação perfeita da afetação de Capote é suficiente para colocar Seymour Hoffman no rol dos grandes atores, mesmo se já não tivesse antes tido grandes participações como coadjuvante em outros filmes, antes.
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